Além das nossas empresas, também quer nos privatizar enquanto seres humanos
Encaminhada a Reforma da Previdência, considerada central pelo governo, parecem caminhar agora a passos largos para dar cabo a uma outra prioridade: privatizar boa parte das empresas que são propriedade do povo brasileiro. Talvez nem as pessoas mais pessimistas imaginassem que viveríamos sob um governo tão entreguista e pouco afeito às questões nacionais como este formado por Bolsonaro.
Na segunda quinzena de agosto, o governo anunciou uma lista de empresas públicas que pretende privatizar. Entre elas, empresas de grande porte e essenciais para qualquer projeto soberano de país. Exemplos são os Correios, a Eletrobrás e até mesmo a Telebrás, que mesmo após a onda de privatizações do governo FHC, sobreviveu e segue responsável por prover infraestrutura e redes de comunicação prestadas pelo governo e ainda leva internet a regiões remotas onde não há outras ofertas.
Mas neste período tenebroso, a privatização de duas empresas públicas me causa ainda mais arrepios: a Dataprev e a Serpro. Por ora, quero tratar da Dataprev, empresa criada em 1974, e vinculada ao Ministério da Economia. Para se ter uma idéia, ela é responsável pelo processamento de benefícios previdenciários e seguro-desemprego em nosso país. Também é responsável por gerir o Cadastro Nacional de Informações Sociais e responde pela segurança dos dados referentes aos impostos de todos os brasileiros.
Já tratei anteriormente sobre os riscos que vivemos sob uma sociedade cada vez mais vigiada, ao falar sobre a utilização de nossos dados por farmácias que pedem nosso CPF e com nossas vidas cada vez mais integradas às redes sociais. E é daí que vêm os arrepios: a Dataprev concentra e trabalha com dados essenciais sobre quem somos e o que fazemos. As possibilidades de uso destas informações são infinitas e quase nenhuma delas aponta para nos beneficiar. E antes que alguém fale, isso não tem nada a ver com o famoso “quem não deve, não teme”. Quanto mais expostos, mais susceptíveis estamos a toda forma de manipulação.
A luta por nossa privacidade deve estar presente de forma constante em nosso dia-a-dia. Se o avanço tecnológico é inevitável por um lado, é preciso que o estado e a legislação garantam a segurança de nossos dados e informações. Certamente não é sob controle do setor privado que teremos estas garantias preservadas. Bolsonaro já destroçou a Lei Geral de Proteção de Dados. E, agora, além de privatizar nossas empresas, também quer nos privatizar enquanto seres humanos.
Edição: Marcos Barbosa