Jornalismo

Greenwald sobre Vaza Jato: "Desde o começo, era sobre a defesa da democracia"

Ato pela liberdade de imprensa na Faculdade de Direito da USP teve também manifestações por "Lula Livre"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Greenwald encerrou a sequência de falas da noite defendendo a liberdade de imprensa e homenageando a equipe do The Intercept Brasil
Greenwald encerrou a sequência de falas da noite defendendo a liberdade de imprensa e homenageando a equipe do The Intercept Brasil - Roberto Parizotti/Fotos Públicas

Jornalistas, juristas e estudantes, entre outros setores sociais, lotaram na segunda-feira (9) o salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) para participar do Ato em Defesa da Liberdade de Imprensa, do Jornalismo e da Democracia.

Além das críticas ao governo Jair Bolsonaro (PSL), pelos constantes ataques à imprensa, o ato teve manifestações pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso político em Curitiba (PR) desde abril de 2018. Os balcões do salão ganharam bandeiras e faixas com pedidos de “Lula Livre”.

O destaque do evento foi o jornalista e fundador do site The Intercept Brasil Glenn Greenwald. O portal, em parceria com outros veículos, vem publicando há três meses a série de reportagens “As Mensagens Secretas da Lava Jato”. Conversas do aplicativo Telegram obtidas pelo site revelaram a existência de um conluio entre membros da operação para cometer diversas ilegalidades, entre elas condenar Lula sem provas com o objetivo de afastá-lo da disputa presidencial de 2018.

Em entrevista coletiva, Greenwald falou sobre a importância de defender o trabalho dos jornalistas e do sigilo da fonte, uma vez que o anonimato da pessoa que forneceu o arquivo das conversas para o Intercept tem sido usado pelos envolvidos para contestar a autenticidade do conteúdo.

“Desde o começo, para nós, era sobre a defesa da democracia. E o princípio que nós temos ainda é sobre a imprensa livre, e é por isso que nós estamos lutando”, afirmou Glenn.

O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o coordenador da força-tarefa, o procurador da República Deltan Dallagnol, estão entre os servidores que tiveram sua atuação política evidenciada pelas mensagens.

Antes do ato, Glenn Greenwald e Leandro Demori participaram de coletiva de imprensa com jornalistas (Foto: Elineudo Meira/Mídia NINJA)

Segundo o jornalista, a reação dos leitores às denúncias “foi mais forte do que esperava”, apesar de ainda não ter mexido na estrutura do Judiciário, já que a imagem de Moro foi construída em muitos anos e não será destruída em três meses.

“Às vezes, penso: como Sérgio Moro pode ainda ser ministro da Justiça, quando você olha para tudo que revelamos sobre ele? Mas, por outro lado, eu entendo que mudanças políticas acontecem lentamente, sempre. Talvez não tenhamos uma mudança tão dramática, com ele renunciando, mas são mudanças importantes, com certeza”, completa.

Para o editor-executivo do Intercept, Leandro Demori, a falta de reação do Judiciário mostra que “existe uma elite jurídica do Ministério Público e na Justiça sendo protegida e se autoprotegendo.”

Diante das evidências apresentadas, ele defendeu a revisão do processo do ex-presidente Lula.

“À luz de tudo que nós já publicamos, me parece evidente, enquanto fato jornalístico, que o processo do [ex] presidente Lula precisa ser revisto e recomeçado. Se as instituições vão agir ou não, não depende de nós. A gente vai continuar publicando, temos muito material pela frente ainda”, afirmou Demori, que também participou da coletiva.

Organizaram o ato o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Instituto Vladimir Herzog e os centros acadêmicos Lupe Cotrim, 11 de Agosto e Vladimir Herzog.

Edição: João Paulo Soares