Há poucos dias da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa dia 24 de setembro em Nova Iorque (EUA), continua a tensão diplomática entre Venezuela e Colômbia.
Membros do governo venezuelano acusam o governo colombiano de preparar um cenário político para atacar a Venezuela durante a Assembleia Geral da ONU, considerado o evento político internacional mais importante do ano.
Diante desse cenário, o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou na noite de segunda-feira (9) a criação de um Conselho de Segurança da Nação, reunindo representantes de todos os poderes do Estado, para deliberar sobre a defesa militar do país.
Essa é primeira vez que um governo da Venezuela recorre a esse dispositivo previsto no artigo 323 da Constituição, que define que "o Conselho de Segurança da Nação é máximo órgão de consulta, para o planejamento e assessoramento ao poder público em assuntos relacionados a defesa integral da nação”.
Compõem o conselho a vice-presidenta da República, Delcy Rodríguez, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno, o procurador-geral da Republica, Tarek William Saab, a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, a cúpula militar e o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello.
O ex-militar e professor de faculdade de Ciências Humanas da Universidade Central da Venezuela, William Izarra explica que a medida é preventiva diante das “circunstâncias em que se aproxima uma agressão militar vinda da Colômbia, que pretende dar início a uma guerra”. Izarra já foi vice-ministro de Relações Exteriores nos governos do ex-presidente Hugo Chávez.
Guerra midiática
A criação do conselho foi anunciada depois que a revista Semana, uma das mais importantes publicações da Colômbia, publicou uma capa com a seguinte manchete: Complô contra Colômbia: os segredos da aliança entre o governo Maduro, as dissidências [guerrilheiras] e o ELN.
A reportagem publicada na segunda-feira apresenta documentos, ofícios e memorandos supostamente emitidos por órgãos oficiais da Venezuela para afirmar que o exército venezuelano protege dirigentes guerrilheiros da nova dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Liberação Nacional (ELN).
O governo venezuelano nega as questões apontadas e diz que a revista publicou uma fake news.
Em entrevista coletiva, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello disse que os documentos apresentados são falsos. “Publicaram uns documentos, supostamente do Sebin [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] de agosto desse ano. No documento colocam o Sebin como uma dependência do Ministério de Interior, Justiça e Paz. Essa informação aparece no cabeçalho, mas faz muitos anos que o Sebin não pertence mais a esse ministério. Agora é um órgão ligado a Vice-Presidência”, defende Cabello.
Outro dos documentos apresentados pela revista é um suposto ofício 0687 do Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (Ceifanb), determinando que a Força Armada não poderia atacar guerrilheiros do ELN. "Nos nossos registros nos arquivos oficiais o documento com esse número é corresponde a ofício para o deslocamento de tropas para a Missão Abastecimento Soberano (de distribuição de alimentos)”, ressalta Diosdado Cabello.
Mais sanções
Cabello afirmou ainda que a denúncia é uma antessala para acusações que podem ser feitas contra a Venezuela na ONU para pedir mais sanções contra o país.
A reportagem se soma a declarações de membros do governo colombiano, que tem acusado o governo venezuelano nas últimas semanas de abrigar grupos guerrilheiros.
O presidente Iván Duque disse no dia 30 de agosto que a nova dissidência das Farc na Colômbia “conta com apoio de Nicolás Maduro”. Além disso, semana passada, o líder opositor Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional afirmou que iria solicitar a “colaboração de órgãos de inteligência” de países aliados e também “uso de tecnologia satelital” para atuar em território venezuelano contra supostos grupos guerrilheiros.
Exercícios militares
Começam nessa terça-feira (10) e vão até o dia 28 de setembro os exercícios militares venezuelanos nos estados de Zúlia, Táchira, Apure e Amazonas, que nas zonas que fazem fronteira com a Colômbia.
Serão deslocados cerca de 3 mil soldados, além de equipamentos de defesa como baterias antimíssil, sistema de defesa área que inclui aviões caças, helicópteros e informação de satélite.
O ministro de Defesa da Venezuela, o major-general Vladimir Padrino Lopez afirmou que existe “uma campanha agressiva da oligarquia colombiana” contra a Venezuela.
“Fabricam eventos falsos para espalhar pelo território venezuelano uma guerra que não nos pertence. O governo colombiano deve assumir sua responsabilidade”, escreveu o major-general em seu Twitter, junto a uma foto de uma reunião com os altos mandos militares venezuelanos.
O governo venezuelano decretou alerta de segurança laranja na semana passada, após o ministro de Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez havia denunciado a presença de acampamentos de treinamentos de militares dissidentes venezuelanos em território colombiano. A informação foi fornecida por militares presos, acusados de participar de planos de golpes de Estado.
Edição: Rodrigo Chagas