A Venezuela descobriu planos de violência e desestabilização planejados em território colombiano, enquanto a Colômbia acusou a Venezuela de abrigar líderes insurgentes de grupos guerrilheiros. Mas as autoridades venezuelanas rebateram, dizendo que o governo colombiano pretende criar “falso eventos” de violência para acusar os vizinhos na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), no próximo dia 24. Enquanto isso, exército, marinha, aeronáutica e brigadas bolivarianas da Venezuela foram enviados à fronteira com Colômbia para treinamentos militares de defesa.
Assim foi escala da tensão política e militar entre os dois países, que estão com relações diplomáticas cortadas desde fevereiro desse ano, quando o governo colombiano apoiou o opositor Juan Guaidó na tentativa de passar caminhões de ajuda humanitária sem autorização do governo venezuelano. A suposta ajuda, também tentada pela fronteira brasileira, foi vista pelo governo de Nicolás Maduro como uma tentativa disfarçada de invasão.
Na quarta-feira (11), o conselho permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução proposta pela Colômbia para ativar o Tratado de Assistência Recíproca (Tiar) contra a Venezuela. Uma reunião com os ministros do Exterior dos países-membros será convocada para a segunda quinzena de setembro para deliberar sobre possíveis medidas. Esse é um mecanismo de possível intervenção militar, o que gerou reações de repúdio no governo venezuelano.
Para a escritora, pesquisadora e analista política colombiana María Fernanda Barrero, radicada na Venezuela, a tensão política entre os vizinhos tem tudo para continuar subindo.
“Mas minha hipótese é que na Colômbia não existe um consenso interno para assumir um conflito com a Venezuela. Creio que, por instruções dos Estados Unidos e dos grupos de poderes da Colômbia, o governo vai continuar promovendo a guerra irregular. Vão continuar desestabilizando a Venezuela política e economicamente”, destacou.
A pesquisadora relembra a origem desse embate político. “O nível de conflitividade na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela é alto há muitos anos, mas [aumentou] em particular depois de 2002, quando houve a tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chávez. Esse foi um plano dos Estados Unidos, que teve a Colômbia como aliada”, diz María Fernanda.
Para ela, velhos modelos de ataques, típicos dessa região, serão utilizados também nesse momento. “A invasão paramilitar vai continuar acontecendo na fronteira, como vem acontecendo desde 2002”.
O deputado constitucionalista venezuelano Fernando Rivera concorda que tensão tende a subir na fronteira e aponta para dois cenários possíveis, em caso de conflito. Um deles é a guerra convencional. “Nesse cenário, seriam utilizados todas as bases militares que os Estados Unidos possuem na Colômbia, sua tecnologia eletrônica de inteligência e a sua capacidade de força em operações especiais”, afirma.
Outra possibilidade, segundo ele, seria uma “guerra irregular”, com a Colômbia prestando apoio paramilitar.
Já o advogado e cientista político Henri Mogollon é mais otimista. “Os Estados Unidos, nesse momento, não têm nenhuma condição de invadir nenhum país do mundo. A estratégia que adota o governo de Donald Trump é utilizar a ameaça como mecanismo e usar grupos irregulares para desestabilizar os países, que é a última estratégica que utilizam antes da guerra regular. Esses exércitos irregulares desestabilizam os povos e isso torna mais fácil a ocupação militar do território”.
Mogollon acha remota a possibilidade de uma invasão militar. “Vejo isso difícil porque o governo Trump tem alta desaprovação da população estadunidense. Vamos ver todas as ameaças que têm feito contra o Irã. Mas não executaram nenhuma ação porque não têm condições para isso”, analisa.
Os ataques irregulares, no entanto, devem continuar. “O que querem com essas ações de desestabilização é conseguir traições de membros das forças de segurança da Venezuela para que, a partir dessas figuras, eles possam atuar”, ressalta o advogado e cientista político.
O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, afirmou que fará uma denúncia durante a Assembleia Geral da ONU. Ele diz que “demonstrará com provas a fabricação de atos em território colombiano para agredir a Venezuela”.
“Levaremos à ONU informações irrefutáveis, não suposições absurdas, como as que apresentam a Colômbia. Demonstraremos com a localização, coordenadas, fotografias, testemunhos, datas e nomes”, escreveu o chanceler na sua conta no Twitter.
Edição: João Paulo Soares