Em 1° de Outubro de 1927, o governador caicoense do Estado do Rio Grande do Norte, José Augusto de Bezerra Medeiros, fez a leitura de uma mensagem durante sessão na Assembleia Legislativa. Era um “derradeiro” relatório em que expunha “a situação geral de nosso Estado” ao final do seu mandato. Na página noventa e três do documento, José Augusto abordou a “Invasão de Cangaceiros” ocorrida naquele mesmo ano na cidade de Mossoró, segundo ele, apesar da “atitude sempre pacifica da nossa população”, onde jamais teria se formado “em nosso território grupos de malfeitores, de cangaceiros, comuns em outros Estados da Federação”.
Naquele ano, por três vezes, ocorreu “a visita indesejada e maldita” dos cangaceiros ao Estado, sendo a última, de acordo com o governador, “a mais temerosa e audaz”, “sob o comando de três dos mais famosos criminosos conhecidos pela sua hediondez no Nordeste”: Lampeão, Sabino e Massilon. Mossoró, “um dos nossos principais centros de atividade comercial”, teria resistido “altiva e nobremente, unificada toda sua população”, do prefeito ao “mais humilde filho do povo”, em conjunto com a “força pública”, obrigando o bando a recuar, “sem que tivessem logrado o seu intento malsão”.
O discurso de José Augusto, teve sequência destacando a necessidade de medidas necessárias para “robustecer a nossa defesa” no “combate aos criminosos”, como a aquisição de “pelo menos dois destacamentos de cavalaria, de quarenta a cinquenta praças cada um”. Para finalizar, o chefe do executivo ressaltou o que seria “as causas do banditismo e as fontes que o geram e o alimentam”: “todos os poderosos” que “tiram proveito do cangaceirismo”. Para ele, o cangaceiro seria um “tarado moral”, o “menos culpado” do “cancro minaz” do banditismo. O combate primordial deveria ser feito era aos “criminosos de gravata”.
*Leonardo Cruz é historiador.
Edição: Isadora Morena