Cerca de 6 milhões de israelenses vão às urnas nesta terça-feira (17) para a segunda eleição legislativa em cinco meses. O pleito decidirá o futuro do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que em abril não conseguiu obter a maioria necessária para seguir governando o país.
Segundo pesquisas de intenção de voto, o cenário atual é parecido com o do primeiro semestre: um empate entre o partido de Netanyahu, o conservador Likud, e o Azul e Branco, legenda de centro liderada por Benny Gantz.
Um levantamento encomendado pelo TV Channel 13 aponta que os dois partidos irão obter 32 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento de Israel. O número, distante dos 61 assentos necessários para obter a maioria da casa, obrigará que Likud e Azul e Branco busquem apoio de outras legendas.
Netanyahu, que já está no governo há dez anos consecutivos, ficou a um passo de conquistar a maioria em abril. O premiê, no entanto, sofreu um duro revés quando seu antigo aliado, Avigdor Lieberman, líder do partido Israel Nossa Casa, retirou seu apoio à coligação de Netanyahu.
Lieberman, que já foi ministro da Defesa e das Relações Exteriores, endureceu o tom contra seu ex-amigo, exigindo que fosse aprovada uma lei que desagradava aos ultraortodoxos. Diante da incapacidade de atender à demanda e de conquistar a maioria dos assentos, Netanyahu foi obrigado a dissolver o Parlamento e chamar novas eleições.
Dificuldades no horizonte
Tanto o Likud quanto o Azul e Branco encontrarão dificuldades para conquistar a maioria do Knesset. Netanyahu terá que buscar alianças com partidos nacionalistas e ultraortodoxos. Gantz, por outro lado, terá que conquistar o apoio de legendas com um histórico difícil, como a Lista Árabe Unida, coligação formada por quatro partidos que nunca apoiaram nenhum governo desde 1948, ano em que o Estado de Israel foi criado.
Outro aspecto pesa contra o atual primeiro-ministro: Netanyahu deverá comparecer à Justiça em outubro para responder pelos crimes de corrupção, abuso de confiança e malversação. Com uma vitória eleitoral, no entanto, ele pode conseguir imunidade.
O primeiro-ministro poderá ser salvo pela ascensão de um pequeno partido de extrema direita, o Otzma Yehudit. A legenda é herdeira política de Meir Kahana, rabino banido do Parlamento em 1988 por incitar o racismo. O grupo ganhou força nos últimos meses e poderá voltar ao Knesset.
Há também a possibilidade de Likud e Azul e Branco se juntarem para um governo de união nacional. Nesse caso, cada partido indica um premiê para ocupar metade do mandato. Em um cenário como esse, Netanyahu comandaria o país por dois anos, entregando o cargo para Gantz, que governaria durante os dois anos seguintes.
Anexação
A campanha eleitoral ficou ainda mais agitada na última semana, quando Netanyahu prometeu anexar um setor estratégico da Cisjordânia ocupada caso fosse eleito. Neste domingo (15), a apenas dois dias das eleições, o governo autorizou a legalização de um assentamento na região.
O alvo da medida é a colônia Mevo'ot Yeriho, situada nas proximidades de Jericó, principal cidade palestina do vale do Jordão, perto do mar Morto. A localidade é considerada importante para a produção agrícola.
A colonização do leste de Jerusalém e da Cisjordânia ocupada cresceu nos últimos anos sob a administração de Netanyahu e com a chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
O domínio da Cisjordânia é um dos principais motivos de revolta na população palestina. Israel construiu 140 assentamentos na região, todos considerados ilegais sob o direito internacional. O governo israelense, no entanto, nega qualquer ilegalidade.
A promessa de anexar parte da Cisjordânia gerou reações imediatas e, diversos países. Um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que a medida “não teria efeito legal em nível internacional”.
Hanan Ashrawi, uma das principais lideranças palestinas dentro do Knesset, afirmou à AFP que a medida anunciada por Netanyahu destruiria qualquer possibilidade de paz na região. “[O premiê] não está apenas destruindo a solução dos dois Estados, mas também destruindo qualquer possibilidade de paz”, disse.
A Liga Árabe, organização formada por 22 Estados, qualificou como “perigosos” os planos de Netanyahu, e disse que a anexação é contra os fundamentos de paz. A medida também foi rechaçada por Rússia, Jordânia e partidos israelenses que fazem oposição a Netanyahu.
Edição: João Paulo Soares