O ano de 2003 no que diz respeito à música foi recheado de grandes lançamentos. Era raro um “jovem” dessa época que às 18 horas não se sentasse à frente da TV para acompanhar a lista dos clipes mais votados no Disk MTV, os quais, no ano em questão, foi dominado por músicas como “Seven Nation Army”, do White Stripes, “Numb”, do Linkin Park, “Like a Stone”, do Audioslave, entre outros. No cenário brasileiro a cantora Pitty lançava seu meteórico trabalho de estreia, “Admirável Chip Novo”, chegando a vender quase 1 milhão de cópias. O ator Dado Dolabella também estreava na música com seu trabalho “Dado para Você”, porém a maior relevância conseguida pelo álbum foi a emblemática “discussão” com o apresentador João Gordo.
Muito longe de todo esse fervoroso cenário, o compositor Paulo César Pinheiro lançava seu trabalho intitulado “O Lamento do Samba”. O lamento de Paulo Cesár, porém, foi praticamente um sussurro quase inaudível, e passa despercebido por muitos até hoje, de modo que em tempos de Spotify e Deezer o álbum não está presente em nenhuma dessas plataformas, podendo ser encontrado apenas no Youtube. Com exceção de “Nomes de Favela”, a qual é entoada em qualquer roda de samba que se preze e foi regravada por vários outros artistas, as outras faixas do álbum não chegaram a cair no gosto do grande público.
Sem muita pressa, em 50 minutos Paulo César Pinheiro nos apresenta suas saudades e amores em todas as suas nuances, chegando a flertar de maneira (singela) em alguns momentos com a mágoa, o rancor, o ressentimento, a amargura... Tudo isso embalado pela voz rouca e serena do compositor. Em “O Lamento do Samba” as emoções humanas são retratadas sem grandes rimas ou frases de efeitos, pode-se dizer que até de maneira “clichê” em algumas ocasiões, mas que atinge nossas lembranças mais profundas e causam um enorme sentimento de identificação com o que está sendo cantado.
Por fim os instrumentos são muito bem utilizados em todo o álbum, com bons arranjos de bandolim, flauta transversal e trombone. “O Lamento do Samba”, pode-se dizer, trata-se de um dos maiores álbuns de samba de todos os tempos, ainda sem o devido reconhecimento, infelizmente.
*Gustavo Couto é historiador e sambista.
Edição: Isadora Morena