O meu amigo Dito tinha problemas com a bebida fazia tempo
O meu amigo Dito tinha problemas com a bebida fazia tempo. Chegou a um ponto em que, de vez em quando, tinha uns ataques de “delirium-tremens”, um tipo de alucinação em que tinha visões estranhas. Via baratas subindo pelas pernas das pessoas, via monstros que nem conseguia descrever... uma vez viu um monte de anões roubando a loja do pai, outra vez saiu na rua correndo pelado, tentando pegar um ladrão que só ele via... tudo delírio mesmo.
Um dia, o Zé Luís e o Eliazar iam passando em frente à casa do Dito e viram a mãe dele, dona Teresa, chorando encostada no batente da porta. Eles se apressaram a ajudar a mulher.
Eliazar, que era compadre dela, falou preocupado:
⸺ Comadre, o que aconteceu?
Ela respondeu gaguejando, entre lágrimas:
⸺ É o Dito... Venham ver.
Entraram na sala e lá estava o Dito, em pleno ataque de mais um delírio daqueles. Só que esta vez, um tanto diferente. Enfiava o dedo num buraco do sofá e falava sem parar:
⸺ Segura firme no meu dedo, Ivete.
Foram falar com ele, perguntaram o que estava acontecendo, e ele disse:
⸺ Oi, Zé Luís, me ajuda aqui. É a Ivete, minha noiva, que está pequenininha assim ⸺ mostrou com o polegar e o indicador, como se ela tivesse ficado com uns dez centímetros de altura.
E continuou:
⸺ Ela caiu aqui neste buraco do sofá. Não consigo tirar ela daqui.
Quando falou isso, a mãe dele soltou o choro de vez, bem alto.
O Zé Luís falou calmamente para o Dito e para a mãe dele:
⸺ Eu resolvo isso...
O Dito continuou com o dedo no buraco, o Eliazar ficou tentando acalmar a mãe dele, o Zé Luís correu até uma farmácia ali perto e voltou com uma injeção já engatilhada. Aplicou na veia do Dito e ele dormiu.
Aí falou para dona Teresa:
⸺ Pode ficar sossegada. Quando o Dito acordar, já vai estar bem.
Ela agradeceu bastante, comovida com a solidariedade do compadre Eliazar e o amigo Zé Luís.
Os dois se despediram dela e se prontificaram a voltar quando ela precisasse de ajuda. Saíram para a rua e entraram na venda que tinha na casa ao lado.
O Zé Luís abriu os dedos indicador e polegar e pediu ao vendeiro:
⸺ Sai duas daquela que deixou o Dito deste tamanhinho.
Edição: Michele Carvalho