Uma representante da Via Campesina, entidade internacional que articula organizações de camponeses de todo o mundo, participou da primeira Cúpula dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.
Paula Gioia, representante da Via, apontou a agricultura camponesa como saída para a crise climática, afirmando que “agora é urgente colocar a humanidade e a natureza acima do lucro”.
“Nós, os camponeses, temos a solução imediata para o que nossos filhos e jovens demandam atualmente nas ruas. Podemos ajudar a esfriar o planeta!”, disse Gioia ao convocar os governos que se somassem efetivamente no enfrentamento da a questão.
Os ODS são parte da chamada Agenda 2030, estabelecendo uma série de metas e diretrizes para um modelo de desenvolvimento econômico social e ambientalmente justo.
Confira abaixo o discurso proferido por Gioia na Cúpula, que ocorreu em paralelo à abertura da Assembleia Geral da ONU.
Muito obrigada, Senhores/Senhor presidente,
Estimadas excelências,
Obrigada por esta Cúpula e pelo convite. Sou apicultura e represento a Via Campesina, o movimento camponês global de mais de 200 milhões de pessoas e que compreende camponeses, pessoas sem terra, povos indígenas, imigrantes, trabalhadores agrícolas, mulheres camponesas e jovens. Somos essenciais para que se alcance os objetivos do desenvolvimento sustentável. Assim, muito obrigada por nos dar a oportunidade de poder compartilhar com vocês aqui.
Precisamos reconhecer as soluções dos camponeses e assimilá-las. A agroecologia camponesa e a agricultura camponesa sustentável oferecem vias concretas para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Para se chegar à fome zero, a produção de alimentos deve se basear na agroecologia e na soberania alimentar, incluindo os pequenos produtores de alimentos.
A agroecologia camponesa combina séculos de conhecimento e experiência com princípios científicos e ecológicos para desenvolver sistemas alimentares locais vibrantes que podem enfrentar a pobreza e a marginalização. Promove alimentos nutritivos, saudáveis e culturalmente apropriados, melhora a biodiversidade e responde aos efeitos da crise cilmática.
Excelências, os camponeses são os principais agentes de mudanças, mas muitas vezes somos marginalizados e despojados de nossos direitos fundamentais, como o direito à terra, à água e às sementes. Assim, é essencial promover, utilizar e aplicar a Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos camponeses e de outras pessoas que trabalham em áreas rurais.
Inúmeros relatórios de organismos das Nações Unidas, assim como a recentemente iniciada Década da Agricultura Familiar das Nações Unidas, reconhecem os pequenos produtores de alimentos como um pilar fundamental em nossa sociedade. Temos alimentado a maioria da população mundial durante séculos e continuamos a fazê-lo.
Excelências, agora é urgente colocar os direitos humanos e a natureza acima dos lucros. Nós, os camponeses, temos a solução imediata para aquilo que nossos filhos e jovens demandam atualmente nas ruas. Podemos ajudar a esfriar o planeta!
Para isso precisamos que vocês, nossos governos, sejam corajosos, nos representem realmente e se comprometam conosco. Para tanto, devem ser fortalecidas as instituições de governança inclusiva, como o Comitê de Segurança Alimentar Mundial. Temos o conhecimento e a visão para contribuir na formulação de políticas públicas e investimentos necessários para uma transformação agroecológica exitosa.
Globalizemos a luta, para globalizar a esperança por todo o mundo!
Edição: Rafael Tatemoto