As audiências da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, formada por quinze senadores e quinze deputados federais, se tornaram o espaço mais concorrido no Congresso Nacional. Por lá, o PSL e a família Bolsonaro empreendem enorme esforço para tentar inviabilizar a investigação, lançando mão de diversos artifícios regimentais para atrasar as reuniões e impedir convocações.
Na comissão, que é presidida pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA) e relatada pela deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), o governo tem perdido com frequência. A nomeação Coronel e Mata para os principais postos da comissão foi a primeira derrota. Ambos são considerados, pelos governistas, opositores do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
“A CPMI é para proteger a sociedade brasileira de pessoas que utilizam-se de perfis falsos para depreciar seus alvos. A CPMI é para combater as crianças que incitam crianças a prática de crimes, tipo Baleia Azul. A CPMI é para combater pessoas que destroem marcas. A CPMI é para manter o pilar da democracia, para que as pessoas possam eleger seus governantes sem a interferência das redes sociais. O PSL está jogando para o colo dele como se fosse para perseguir o presidente Jair Bolsonaro. Isso não é verdade”, defende Ângelo Coronel.
Na semana passada, a CPMI aprovou diversas convocações para depoimentos em audiências na Casa, contrariando o PSL e o Palácio do Planalto. A lista de convocados é extensa e chama a atenção pela variedade.
Artistas que foram vítimas de fake news como o youtuber Felipe Neto e os atores Bruno Gagliasso e Taís Araújo estão entre os depoentes, além de políticos como Manuela d’Ávila (PCdoB), candidata a vice-presidenta na chapa com Fernando Haddad (PT) em 2018, e o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), antes aliado, agora desafeto de Bolsonaro.
Mas o maior temor do clã Bolsonaro parece ser a convocação de sete empresas acusadas de envio em massa de mensagens pelo Whatsapp no período eleitoral de 2018. São elas: Quickmobile, Croc Services, Kiplix, Deep marketing, SMS Market, AM4 e Yacows.
O esquema teria beneficiado Bolsonaro e o PSL na reta final das eleições, divulgando mentiras contra seus adversários para milhões de eleitores em todo o país, segundo denunciou à época o jornal Folha de S.Paulo.
Bloco familiar
Filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e senador Flávio Bolsonaro são membros da CPMI e parte da tropa de choque montada pelo PSL que tenta inviabilizar a comissão. Para Eduardo, a intenção da comissão é derrubar seu pai.
“Eles vão botar no relatório que Bolsonaro foi eleito com base em fake news e então protocolarão um pedido de impugnação de JB (Jair Bolsonaro) no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e de impeachment na Câmara, que ficará á cargo do presidente [Rodrigo] Maia iniciar ou não”, afirmou o deputado pelo Twitter.
Em entrevista ao portal Terça Livre, site que funciona como porta-voz do governo, Flávio Bolsonaro reclamou que o objetivo da CPMI ainda não está evidente.
“Iam convocar especialistas para que ajudassem os senadores e deputados da comissão a formarem um juízo de valor sobre o que é fake news, ou seja, sequer o nome CPI das Fake News é definido, imagina o objeto dessa CPI.”
Uma das governistas mais irritadas com a CPMI é Caroline de Toni (PSL-SC). Em seu Twitter, ela publicou um vídeo após ser aprovada as convocações para depoimento na comissão.
“Só querem perseguir nosso presidente com fake news e mais uma vez fomos derrotados. Tem uma clara demonstração de que foi entregue para a oposição para cassar o Bolsonaro.”
Medo do quê?
A postura do governo chama atenção de parlamentares.
“Estão com medo do quê? Quem não deve, não teme. Eles estão desesperados, então deve ter muita sujeira por baixo do tapete do governo”, afirmou um deputado que conversou com o Brasil de Fato e pediu para não ser identificado.
Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o objetivo do governo é proteger a militância que o elegeu e não o partido. “Todos os indícios levam a uma atuação, não do PSL, mas uma atuação muito forte dos setores de extrema-direita. Não apenas nas eleições, como agora, quando eles atacam o STF e o Congresso”, afirma o parlamentar, que acha precipitado falar em impeachment.
“Não há nenhuma possibilidade agora. Afirmar isso é precipitado, é como colocar a carroça na frente dos bois”, encerra.
Relatora da CPMI, a deputada federal Lídice da Mata afirmou que “há algo muito estranho no reino da Dinamarca, ou no reino do Brasil, na família monárquica, em que não se pode tratar do assunto fake news”, provocou ela em entrevista concedida à revista Época.
Obstruída pelo PSL, a CPMI ainda não consegui realizar sua primeira reunião plenária, mas já está funcionando. Entre outros encaminhamentos, a comissão enviou ofício ao Facebook solicitando a entrega de relatório completo sobre as investigações feitas pela empresa que, em julho do ano passado, resultaram na suspensão de 196 contas e 87 perfis por disseminação de fake news.
Muitas dessas contas eram ligadas ao Movimento Brasil Livre (MBL), aliado de Bolsonaro na eleição do ano passado. O Facebook tem 10 dias úteis para responder.
PSL
Consultada pelo Brasil de Fato, a bancada do PSL na Câmara dos Deputados disse, em nota, que o objetivo da CPMI é “censurar a população que usa redes sociais”. Leia a íntegra.
Ao PSL muito estranha que a Comissão continue a levar o nome de “CPMI das Fake News”, pois o Plano de Trabalho exposto pela relatora não traz isso em seu escopo. O que foi apresentado até agora é uma proposta para censurar a população que usa as redes sociais, impedido as opiniões contrárias a determinados políticos, uma afronta à liberdade de imprensa e uma busca incessante em convocar pessoas, declaradamente opostas ao presidente Jair Bolsonaro, legitimamente eleito, na tentativa de criar Fakes News contra ele e o governo. Sabe o que mais incomoda alguns parlamentares, especialmente os defensores da CPI DA CENSURA? Não entenderam ainda que as mídias sociais trazem a população para dentro do Congresso Nacional, diariamente, para que possam fiscalizar tudo que se faz aqui. E isso incomoda muita gente.
Edição: João Paulo Soares