Vinte e sete anos após o "Massacre do Carandiru", as chacinas seguem em curso nas cadeias e nas periferias. A conclusão é da Frente Estadual pelo Desencarceramento SP, que ocupou a Praça da Sé, na região central de São Paulo, para lembrar as 111 execuções cometidas pela Polícia Militar paulista no pavilhão 9 do Complexo do Carandiru, no dia 2 de outubro de 1992.
“Neste país, há um projeto de genocídio da população negra, que se expressa principalmente através do assassinato da juventude negra”, afirmou Milton Barbosa, Fundador do Movimeno Negro Unificado (MNU).
::Policiais são suspeitos de participar de uma a cada cinco chacinas no Brasil::
“Eu lembro mais do dia 1 de outubro do que o dia 2 de outubro. Estávamos organizados, na nossa rotina, como tudo deveria continuar”, lembra Kric Cruz, rapper e sobrevivente do Massacre do Carandiru. “Foi tudo muito rápido, eu estava no pavilhão ao lado, o 8”, recorda.
Para Cruz, a impunidade é a ferida que segue aberta após 27 anos. “Os massacres continuam, o (Wilson) Witzel , o (João) Dória e o (Jair) Bolsonaro estão aí para mostrar que a prática do extermínio continua viva”, explica o rapper.
Barbosa, do MNU, recordou que o episódio não pode ser explicado sem o entendimento de que se trata de “uma política do Estado brasileiro”.
“Foi uma ação de barbárie que faz parte do projeto de genocídio. Naquele período, já questionávamos o número, foram 243 pessoas e não 111. Temos que nos reunir aqui em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e muitos outros lugares. Há um projeto de genocídio em curso”, afirma Barbosa.
Caminhada
O ato saiu da praça da Sé e seguiu pela região central, passando por sedes de órgãos do aparato policial e judiciário de São Paulo. Na frente dos prédios, os militantes deixaram bonecos que simulavam os corpos dos mortos no Massacre do Carandiru.
Foram visitadas, pelos manifestantes, as sedes da Secretaria de segurança Publica (SSP), do Ministério Público Estadual (MPE) e do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Impunidade
Em março de 2018, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), anulou o julgamento dos policiais acusados pelo massacre. Um júri popular havia determinado, em 2015, pena de 48 até 600 anos para 74, dos 300 agentes que participaram da ação.
Edição: Rodrigo Chagas