A força tarefa e seu espetáculo midiático obedecem à fórmula de desmonte do país
Ontem, dia 3 de outubro, celebrou-se mais um aniversário da Petrobras, uma empresa símbolo da autossuficiência energética, da industrialização nacional e da soberania brasileira. A Petrobras é uma empresa nacional que corporifica as principais divergências políticas brasileiras. Desde a sua edificação, uma parcela do empresariado nacional associado ao capital estrangeiro, parte da mídia e representantes das multinacionais colocaram-se em aberta oposição à sua existência e ao monopólio estatal. Sob argumentos diversos, tais como ausência de capacidade tecnológica nacional, escassez de dinheiro para o montante exigido em investimentos e ineficiência das empresas estatais, entre outros.
Erramos os analistas. A Petrobras, ao longo da sua existência, foi líder no desenvolvimento tecnológico, principalmente na tecnologia de fronteira na produção de petróleo no mar; demonstrou capacidade e ousadia descobrindo o Pré-Sal e foi responsável por parte importante do desenvolvimento econômico e industrial da economia brasileira em anos recentes, estimulando uma grande cadeia de fornecedores e produzindo matéria prima essencial à atividade industrial a preços baixos e em moeda nacional.
Esses mesmos setores comprometidos com a entrega do país precisaram mobilizar, então, outro argumento para a destruição dessa empresa. A corrupção caiu como uma luva. Embora as cifras da estimativa de corrupção na empresa sejam muito elevadas, na ordem de R$ 6 bilhões de reais, o lucro bruto da empresa foi de R$ 80 bilhões. Não importava que isso representasse apenas 7% do faturamento da estatal. A corrupção foi eleita como o responsável por “quebrar” a Petrobras. A partir disso se abriu dois campos de ofensiva da direita conservadora brasileira: a) o desgaste da imagem da Petrobras e a criminalização da sua política de investimento; b) a demonização do PT. Isso está mais claro, atualmente, após as denúncias do Intercept sobre as motivações políticas da Operação.
A Operação Lava Jato e seu espetáculo midiático levaram a Petrobras a reduzir o seu montante de investimento em 25%. Segundo cálculo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), utilizando dados da Matriz de Absorção de Investimento, cada R$ 1 bilhão investimento somente na Exploração e Produção de Petróleo impacta o PIB brasileiro em R$ 1,28 bilhão e cria mais de 26.319 mil ocupações diretas. Ou seja, a redução dos investimentos da Petrobras, de forma abrupta em função das denúncias da Lava Jato, custou milhões de empregos e forte contratação no Produto Interno Brasileiro (PIB).
Somente entre 2015 e 2016, a Operação Lava Jato foi responsável por algo em torno de 2,5% da retração do PIB, uma queda da arrecadação de R$ 146 bilhões relacionada, principalmente, à paralisia das atividades nos setores metalmecânico, naval, construção civil e engenharia pesada. Esses não apenas são setores intensivos em mão de obra – no caso da Construção Civil – como são setores de ponta, representando uma das poucas atividades econômicas das quais o Brasil tinha competitividade internacional, prioritariamente no caso da engenharia pesada.
Tabela: Total de Trabalhadores e taxa de crescimento nas empresas fornecedoras da Petrobras (2013 = 100)
Ano |
Total de trabalhadores fornecedoras |
taxa de crescimento |
2014 |
901.191,41 |
-8% |
2015 |
816.460,01 |
-10% |
2016 |
666.166,95 |
-19% |
Ainda que a gente não possa isolar outras variáveis importantes como a recessão econômica de forma geral, a queda significativa do número de emprego em 2014 – quando a economia brasileira vivia sua menor taxa de desempenho da história – demonstra o que foi, puramente, efeito de uma Lava Jato desastrosa.
Gráfico: Total de investimentos da Petrobras e total de emprego nas empresas fornecedoras da Petrobras entre 2003 e 2016
Nesse gráfico fica claro a relação direta que tem a queda do investimento da Petrobras e a completa destruição de empregos nas empresas fornecedoras.
Essa é a fórmula de desmonte de um país: enfraquecer sua principal empresa estatal, líder mundial na exploração de petróleo em águas profundas; criminalizar sua política de investimento; reduzir os empregos e as encomendas nas empresas fornecedoras e, por fim, atacar um dos poucos setores econômicos nacionais com elevada produtividade e alto desenvolvimento tecnológico. Tudo isso atende aos interesses daqueles que querem um Brasil mais submisso, mas dependente e com reduzida soberania energética e econômica.
Edição: João Paulo Soares