Desde pequenininhas as pessoas podem mostrar sua verdadeira personalidade
12 de outubro é “Dia da Criança”, e pensando nisso me lembrei de duas crônicas sobre crianças, escritas pelo humorista Stanislaw Ponte Preta e pelo poeta Carlos Drummond de Andrade.
Uma coisa interessante nelas é que mostram que desde pequenininhas as pessoas podem mostrar sua verdadeira personalidade.
Então aí vai um resumo das duas crônicas, ambas do tempo da ditadura.
A crônica de Stanislaw Ponte Preta chama-se “Garoto linha dura”. Para quem não viveu aqueles tempos, explico: linha dura era como se definiam militares favoráveis ao endurecimento da ditadura, com mais repressão, mais prisões etc. Hoje, seriam uns bolsonaristas.
Esse garoto, na crônica de Stanislaw, jogava bola na rua e quebrou a vidraça do vizinho. Sumiu de casa o dia inteiro, com medo de ser castigado pelo pai, que soube do acontecido quando chegou em casa.
Antes do jantar, perguntou ao menino e ele insistia que não foi ele quem quebrou a vidraça, embora a própria mãe tenha visto o acontecido. O pai prometeu não castigá-lo se ele contasse a verdade, mas ele se calava. O pai propôs que fossem ao vizinho esclarecer as coisas depois do jantar. Ele se calou.
Quando, enfim, jantaram, o menino falou: “Papai, esse menino do vizinho é um subversivo desgraçado. Não pergunte a ele não. Quando ele vier atender à porta, o senhor vai logo tacando a mão nele”.
A crônica de Drummond, publicada no Jornal do Brasil e depois no livro “O poder ultrajovem”, chama-se “No Restaurante”.
Explico também: na época louvava-se muito o chamado “Poder Jovem”, e Drummond brincou com isso.
Na crônica, ele narra a chegada de um homem com a filha de no máximo quatro anos de idade a um restaurante, e ela já foi logo dizendo que queria lasanha.
O pai queria camarão e pediu isso, prometendo que depois do camarão pediria lasanha. Ela insistia, dizendo: “O senhor come camarão, eu como lasanha”. Mas acabou topando dividir uma porção de camarões com o pai, para a decepção de todo mundo das mesas vizinhas, que acompanhava a discussão torcendo pela menina cheia de personalidade.
Frustração: ela cedeu. Quando acabaram de comer, o pai pediu a conta e ela não aceitou.
Tinha dividido o camarão com o pai e ele, como tinha prometido (esperando que ela se empanturrasse de camarão e esquecesse a lasanha), agora ele teria que dividir uma lasanha com ela. Bateu o pé.
O pai acabou abaixando a cabeça e pedindo a lasanha. Um casal da mesa vizinha começou a aplaudir e o restaurante inteiro acompanhou...
Edição: Michele Carvalho