Religião

Dia da Padroeira do Brasil representa a crença do povo oprimido

Feriado nacional de Nossa Senhora da Aparecida acontece dia 12 de outubro; dia é símbolo pela fé dos perseguidos

Brasil de Fato | Natal (RN) |

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Negra e oriunda dos mais vulneráveis, Nossa Senhora é a fé por uma alternativa de vida
Negra e oriunda dos mais vulneráveis, Nossa Senhora é a fé por uma alternativa de vida - Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Encontrada por pescadores no Rio Parelha do Sul, em 1717, segundo as crenças, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida logo se tornou uma das principais representações bíblicas da imagem de Maria no Brasil. Mas não só as diversas lendas de milagres ocorridos na presença da Santa tornam ela com tamanha importância, mas também toda a sua relação com a defesa dos pobres, oprimidos e sua representação negra.
Foi por pescadores, na época da escravidão, que o corpo e a cabeça da Santa padroeira foram encontrados, proporcionando uma grande fartura de peixes à uma cidade pobre que desejava realizar uma festa durante a passagem de um conde. E, com esse milagre, a imagem da Nossa Senhora ficaria simbolizada numa capela, onde diversos outros milagres também ocorreriam.
Assim como Nossa Senhora da Aparecida, diversas outras representações de santas mulheres também aparecem para ilustrar a fé cristã, a exemplo de Nossa Senhora de Guadalupe (aparecendo sua imagem a um índio), Nossa Senhora de Fátima (aparecendo aos três pastorinhos), e até Nossa Senhora da Apresentação (que é padroeira de Natal/RN). Invocada com tantos nomes, entretanto, ela representa a mesma figura: Maria de Nazaré.
“Para nós católicos essa imagem tem uma simbologia: retrata a figura de uma mulher que foi a mãe de Jesus, a mãe do filho de Deus. Por isso, essa devoção não é somente a imagem em si, mas a figura de Maria, que não é a salvação, mas nos trouxe a salvação que é Jesus Cristo”, explica o diácono Francisco Adilson, da coordenação executiva do Serviço de Assistência Rural (SAR) da Arquidiocese de Natal.
Segundo ele, em um país como o Brasil, durante um período de escravidão e desrespeito a dignidade humana, com comunidades tradicionais e pescadores oprimidos, o aparecimento da padroeira traz um significado representativo às passagens bíblicas: “Maria é aquela que se compraz com os pequenos”.
Ela é a mãe e a defensora daqueles que não são reconhecidos pela sociedade, e até mesmo pelo Estado. Seja vinculada aos indígenas (no caso de Nossa Senhora de Guadalupe) ou às crianças pobres (no caso de Nossa Senhora de Fátima), as várias aparições de Nossa Senhora, ao longo da história, sempre se vinculam aos pequenos e oprimidos. 
“Uma mãe tem 10 filhos, e ela os ama incondicionalmente. Mas, quando um adoece, ela olha para o que está mais doente, capaz de passar noites inteiras de sono cuidando dele. Quando se pega a imagem de Nossa Senhora da Aparecida, costumo ver que ela também se identifica com os pobres: uma imagem de barro, dentro das águas e negra”, destaca o diácono.
A devoção atual
Em 1930, a Nossa Senhora Aparecida foi declarada padroeira do Brasil, mas apenas em 1980 foi declarado o dia 12 de outubro como feriado nacional. Nos dias atuais, principalmente quando cristãos têm esse momento para dedicar sua crença à padroeira, apresenta-se o momento de reflexão para lutar por aquilo que a santa prega.
“Hoje, olhando para o Brasil, numa realidade de opressão e retirada de direitos dos pobres, onde as comunidades indígenas e quilombolas estão sendo perseguidas, vivemos num país onde a dignidade humana e os direitos das pessoas estão sendo desrespeitados a cada canetada desse governo. Na hora em que as pessoas se encontram para rezar o terço de Nossa Senhora, e começam a refletir a palavra de Deus e ver que esse sistema de opressão e injustiça está longe do que ele prega, isso é um sinal que Deus está agindo e ajudando o povo no processo a libertação”, ressalta Francisco Adilson.
Então, é nesse momento em que os fiéis tomam consciência de sua realidade e vão se juntando, discutindo e refletindo para buscar suas alternativas de vida. Adilson aponta que, na hora da profissão da fé em Deus e em devoção à Nossa Senhora como mãe e defensora dos pobres, a fé age exatamente para que as pessoas busquem formas ou alternativas de vida. 
Como parte desse momento de reflexão e devoção a fé dos cristãos, diversas paróquias em Natal realizarão missas e celebrações pela padroeira do Brasil, no dia 12 de outubro. A arquidiocese da cidade destaca, na programação local, as festividades na paróquia do bairro de Neópolis, que recebe o mesmo nome da padroeira. A partir das 6h, a igreja terá uma alvorada festiva; às 8h, o padre Henrique da Silva presidirá uma missa solene; às 16h, o arcebispo da cidade Dom Jaime também realizará outra missa; e, após isso, os fiéis sairão pelas ruas de Neópolis em uma procissão.
 

Edição: Isadora Morena