Mais de 8 mil livros e 1067 títulos de 48 editoras. Esses são os números da Feira do Livro realizada pela Editora Expressão Popular nos dias 12 e 13 de outubro, no Armazém do Campo, em São Paulo. O evento faz parte da Ação Literária da editora que comemora 20 anos de existência na batalha das ideias.
Criada em 1999, a Expressão Popular surgiu em meio a um contexto de ofensiva do neoliberalismo e recuo das forças dos trabalhadores. “A ideia era justamente dar uma contribuição teórica para a formação e organização dos militantes sociais”, explica o editor Miguel Yoshida.
Duas décadas depois, e com 600 títulos publicados, a editora continua incentivando o pensamento crítico e influenciando no debate político. Yoshida conta que o acirramento da conjuntura, a partir do golpe de 2016, fez com que muitas pessoas, especialmente as jovens, recorressem aos livros da Expressão Popular para entender o momento histórico.
“É claro que fica mais difícil de circular nossas ideias e pontos de vista, mas ao mesmo tempo há uma curiosidade do público que tem buscado, por exemplo, conhecer nossas publicações sobre Paulo Freire e o Manifesto Comunista; a procura é grande”, relata.
Visitantes
A atriz Chris Couto, que passava pelo Armazém do Campo, aproveitou para visitar a Feira do Livro e reafirmou a importância de se buscar informações nesse momento de crescimento das ações contra a cultura e a educação. “O que podemos fazer é não parar de se informar, estudar e ir atrás das informações corretas”, disse.
Já o educador Paulo Inácio Alves de Araújo Coelho ressaltou a importância dos professores estimularem o hábito de leitura nos alunos. “Eu me preocupo com a falta de estímulo por parte dos educadores para fazer com que as crianças, jovens, adolescentes e adultos se interessem por livros. Acredito que seja necessário mais políticas de incentivo e acesso. Como querem que o povo leia se o próprio educador não estimula?”, questiona.
“Iemanjá, a deusa do mar”
Sobrevivente da ditadura, a artista plástica e autora Marlene Crespo lançou o livro “Iemanjá, a deusa do mar”, durante a Ação Literária. “Essa edição está viva e isso me agrada muito”, declarou.
Aos 86 anos, Marlene autografou exemplares e revelou a alegria de comemorar 20 anos da Expressão Popular. “Foi um lançamento muito gostoso, diferente do que costuma ser”, afirma.
Animada, a autora antecipou que prepara um novo livro pela editora contando as verdadeiras memórias da infância.
As publicações de Marlene dialogam com a intenção da Expressão de valorizar o direito à literatura desde a infância. “O lançamento da Marlene Crespo significa a retomada desse direito. Ela traz uma narrativa poética sobre Iemanjá que, para nós, representa o direito à liberdade religiosa, de conhecer a história afrodescendente e da mulher ser livre”, explica a jornalista Cecília Luedemann, responsável pela divulgação na editora.
Segundo Luedman, a ação também realiza uma campanha conjunta com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelo direito à literatura nas escolas do campo. “A Ação Literária também tem atividades de solidariedade, quem vem aqui compra um livro pros seus filhos e para outras crianças brasileiras do campo”, acrescenta.
A pedagoga Inaiá Araújo divertiu e educou crianças narrando também uma história sobre Iemanjá durante a contação da história “Ubuntu”. “Narrar história é uma memória. A criança aceita, adora e quer ouvir de novo. Pensar em intolerância religiosa está justamente em não conhecer. É legal entender a história e a origem dessas outras religiões”, define.
Livros pelo Brasil
Iniciada na última segunda-feira (7), a Ação Literária da Expressão Popular conta com mais de 70 atividade em 17 estados brasileiros, e vai até domingo (13), no Armazém do Campo, que fica na Alameda Eduardo Prado, 499 - Campos Elíseos, São Paulo.
"É um esforço muito grande, mas o resultado foi muito positivo. Ter nossas ideias debatidas no Brasil todo e mostrar a importância do estudo para essa conjuntura e a importância de se fortalecer na batalha das ideias para enfrentar tudo isso que estamos vivendo”, salienta Miguel.
Edição: Cecília Figueiredo