Primeiro autor a ser publicado pela Expressão Popular, o pensador marxista brasileiro Michael Löwy participou, neste sábado (12), do debate “Os 20 anos da Expressão Popular e a Batalha das Ideias nos Tempos Atuais”, promovido pela editora como parte da programação da Ação Literária.
"Löwy escreveu nos anos 1970 a obra 'O Pensamento de Che Guevara' e, em 1999, quando surge a Expressão, ele cedeu os direitos para publicarmos a edição brasileira”, lembra o editor Miguel Yoshida.
Passados mais de 40 anos da publicação original, Löwy faz questão de ressaltar a atualidade do pensamento de Che, assassinado há 52 anos. “Se mata um revolucionário, mas não se matam suas ideias, elas continuam sendo lidas e discutidas até hoje”, acrescenta.
Para ele, um dos pontos atuais do pensamento de Che é a concepção humanista da revolução, no centro da qual está a vida humana, a solidariedade e a fraternidade internacional entre as comunidades.
“O socialismo e o comunismo não são só sobre distribuição de bens, é uma ética que busca superar as alienações e construir outro tipo de relação humana, em oposição ao capitalismo que explora os trabalhadores, transformando-os em mercadorias”, esclarece.
No entanto, apesar de as ideias de Che Guevara serem indispensáveis para a luta de classes nos dias de hoje, o pensador radicado na França destaca que elas não dão conta de tudo.
“A questão ecológica, por exemplo, não existia naquela época, mas precisa estar presente hoje. Não há outra ecologia a se fazer que não seja a ecologia socialista”, cita.
Batalha das Ideias
Além de Michael Löwy, participaram do debate Rosana Fernandes, coordenadora pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), Ricardo Gebrim, da direção nacional da Consulta Popular, e Carlos Bellé, coordenador da Expressão Popular.
O vínculo orgânico estabelecido entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a ENFF e a Expressão Popular foi citado por Fernandes e Gebrim ao resgatarem o histórico de construção da editora.
“A Expressão surgiu da necessidade de se ter um instrumento de elaboração da militância, reunindo publicações de intelectuais das organizações sociais e obras clássicas, fundamentais para o processo de formação política”, lembra Fernandes.
Para a coordenadora da ENFF, após 20 anos na batalha das ideias, o grande desafio é seguir ampliando o acesso da classe trabalhadora às obras.
“A Expressão Popular é a forma de lutar contra as várias formas de alienação impostas à população, especialmente nesse momento difícil. E se a editora resiste nesse tempo, é porque faz sentido para os trabalhadores”, acredita Fernandes.
Ao recordar autores que simbolizam o caráter constitutivo da Expressão Popular, Bellé citou autores como Clóvis Moura com o tema racial; Gina Couto e a ideia do livro como base do diálogo e das relações; Leandro Konder que propagava as ideias socialistas; e Marta Harnecker, considerada a maior educadora popular do marxismo.
“A Expressão Popular quer que suas obras ajudem os leitores a entenderem o momento. Ela só existe porque é solidária e coletiva e se propõe a construir um mundo diferente, o mundo que sonhamos”, disse Bellé.
Empreitada que foi elogiada por Michael Löwy por semear "grãos de socialismo", de "cultura revolucionária", "teoria marxista", literatura, arte e poesia, nas duas últimas décadas.
“Estamos enfrentando uma ofensiva neofascista sem precedentes e essa conjuntura dramática faz com que os trabalhadores, mulheres, negros e jovens busquem respostas, argumentos e ideias para resistir. A Expressão é o instrumento que oferece munição para essa batalha das ideias”, en fatizou Löwy.
Ação Literária
Iniciada na última segunda-feira (7), a Ação Literária da Expressão Popular conta com mais de 70 atividade em 17 estados brasileiros, e vai até domingo (13), no Armazém do Campo, que fica na Alameda Eduardo Prado, 499 - Campos Elíseos, São Paulo.
Edição: Cecília Figueiredo