Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, está prestes a se tornar a primeira santa brasileira. Neste domingo (13), a beata será canonizada no Vaticano pelo Papa Francisco, e passará a ser chamada de “Santa Dulce dos Pobres”, por conta de sua vida dedicada aos mais vulneráveis.
Mais de 100 pessoas de uma Comitiva do Brasil devem acompanhar o ato, entre elas, parlamentares e autoridades políticas, junto de filhos e cônjuges. Informalmente, Dulce já é tratada como santa na Bahia e seu santuário no largo de Roma, em Salvador, atrai fieis e romeiros durante todo o ano.
Nascida em 1914 na capital baiana, desde a adolescência Dulce já manifestava o desejo de seguir a vida religiosa. Ela lotava a casa dos pais de pessoas doentes e transformou o local em um centro informal de atendimento, em 1927. A casa ficou conhecida como “a portaria de São Francisco”.
Aos 23 anos, ela fez sua profissão de fé e votos perpétuos, tornando-se freira após seis meses na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe.
A preocupação de Dulce com os menos favorecidos permeou toda sua vida e se manifestou inclusive na escolha do seu time de futebol. A religiosa torcia desde pequena para o Esporte Clube Ypiranga, uma tradicional equipe baiana, formada por excluídos sociais e pela classe trabalhadora.
Já como freira, seu primeiro trabalho foi em um colégio, na Cidade Baixa, em Salvador (BA). A Irmã começou a atender a comunidade pobre dos Alagados, formada majoritariamente por operários. A atuação no local resultou, em 1936, na criação de um posto médico e da primeira organização operária católica do estado, a União Operária São Francisco.
A União, posteriormente, tornou-se o Círculo Operário da Bahia, que visava a promoção cultural e social dos trabalhadores, e era sustentado pela renda gerada por três cinemas construídos por meio de doações. Em relação permanente com a classe operária, ela ajudou a fundar o Colégio Santo Antônio, pensado para educar os filhos das trabalhadoras e trabalhadores.
O maior destaque de sua trajetória enquanto militante religiosa e social foi sua atuação ao lado dos enfermos, que rendeu a Dulce a alcunha de “Anjo bom da Bahia”. Exemplo disso está na história do maior hospital da Bahia, o Santo Antônio. A instituição surgiu por iniciativa da Irmã, que ofereceu tratamento a 70 doentes resgatados das ruas de Salvador em um abrigo improvisado no galinheiro do Convento Santo Antônio.
O local realiza atualmente 16,5 mil internações e 10 mil cirurgias anuais. No total, são 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Legado
Irmã Dulce faleceu em 13 de março de 1992, mas seu trabalho continua graças à entidade filantrópica Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), criada por ela em 1959, e que segue a missão da freira até os dias de hoje.
O Hospital Santo Antônio é apenas uma das iniciativas que criadas pela força de Irmã Dulce.
A instituição faz parte do Complexo Roma, que possui 21 núcleos atuando nas áreas de saúde, assistência social, pesquisa científica, ensino em saúde e educação. Entre eles estão o Centro Geriátrico, Hospital da Criança, a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, o Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência e Centro Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas.
Na área de educação, o Centro Educacional Santo Antônio (Cesa) tem uma história semelhante à do Hospital. Surgiu do desejo da freira de ajudar o próximo, em 1964, quando decidiu por criar um orfanato para abrigar crianças sem referência familiar. Em 1994, tornou-se uma escola de tempo integral, e hoje atende a cerca de 787 crianças em situação de vulnerabilidade social no ensino fundamental.
O Cesa é referência no ensino básico, e oferece acesso à arte-educação, inclusão digital, iniciação profissional, atividades esportivas, assistência odontológica, alimentação, fardamento e material escolar gratuitos. Além disso, dispõe de uma unidade de sustentabilidade, o Centro de Panificação.
Milagres
Após sua morte, relatos de milagres e graças alcançadas se multiplicaram, tanto no Brasil quanto no exterior, superando a marca dos 14 mil catalogados por uma equipe das Obras Sociais Irmã Dulce. Foram dois os milagres, porém, que a levaram a ser reconhecida como beata e, agora, como santa.
“Bem-aventurada Dulce dos Pobres” foi beatificada em 2011 após ter um milagre reconhecido pela Igreja Católica. O milagre atribuído a ela foi a sobrevivência da sergipana Cláudia Cristiane dos Santos. Após dar a luz em 11 de janeiro de 2001, ela teve uma hemorragia e precisou passar por três cirurgias. Após 18 horas sangrando, os médicos afirmavam que Cláudia não tinha chances de sobreviver, mas ela se recuperou após orações feitas para Irmã Dulce.
Dez médicos brasileiros e seis italianos investigaram o caso. Não foram encontradas explicações científicas para a milagrosa recuperação da paciente.
O segundo milagre reconhecido -- o que levou ao processo de canonização --, é a cura da cegueira instantânea de um homem de cerca de 50 anos. Sem enxergar por 14 anos, ele teria clamado por Irmã Dulce após sentir fortes dores nos olhos. No dia seguinte, voltou a enxergar. Uma comissão de médicos analisou o milagre e, de novo, não encontrou nenhuma explicação na ciência.
A canonização de Irmã Dulce foi a terceira mais veloz da história da Igreja Católica a partir da data da morte. Foram 27 anos.
Edição: Rodrigo Chagas