Mais de 500 mil militantes feministas de toda a América Latina e de outras partes do mundo participaram do 34º Encontro Plurinacional de Mulheres, Lésbicas, Travestis, Pessoas Trans e Não Bináries entre 12 e 14 de outubro na cidade argentina de La Plata, na província de Buenos Aires. Foi a maior edição do evento em suas mais de três décadas de história.
O evento anual, que antes se chamava Encontro Nacional de Mulheres, é realizado desde 1985 e, a cada ano, reúne pessoas de diferentes raças, classes, identidades de gênero e orientações sexuais que lutam por reconhecimento, voz e espaço político. Neste ano, após uma longa batalha liderada por mulheres indígenas, lésbicas, bissexuais e pessoas trans, o encontro passou a incorporar a bandeira “plurinacional e sem fronteiras”.
A mudança no nome oficial para Encontro Plurinacional de Mulheres, Lésbicas, Travestis, Pessoas Trans e Não Bináries foi anunciada no dia 14 de outubro durante a cerimônia de encerramento das atividades. Os debates sobre a mudança de nome e a síntese da luta comum contra o racismo, o patriarcado, o machismo, o colonialismo, a heterocisnormatividade, o capitalismo e o neoliberalismo começaram há mais de dois anos.
Nos três dias de evento, as militantes compartilharam experiências, construíram redes e participaram de discussões para fortalecer a luta feminista e dos movimentos populares internacionalmente. Foi um momento histórico de participação de mulheres indígenas, negras, e pessoas LGBT. Também foi marcante a presença de crianças e jovens, que realizaram oficinas e debates políticos.
No primeiro dia, foram mais de 100 oficinas sobre diferentes temas feministas, sociais e políticos. As discussões incluíram educação sexual integral, feminização da pobreza, luta de classes, direitos das mulheres encarceradas, luta contra a violência de gênero, a importância da luta pelo fim do racismo e da heteronormatividade, treinamento de autodefesa, a construção de movimentos políticos, além de atividades esportivas.
Foram lembradas as lutas de mulheres revolucionárias, indígenas, negras, travestis e trans, incluindo Marielle Franco, Macarena Valdés, Berta Cáceres, Diana Sacayán e Lohana Berkins, mortas por defenderem suas identidades, corpos e territórios.
No segundo dia de evento, uma imensa mobilização tomou as ruas de La Plata. Centenas de milhares de pessoas se concentraram na Praça San Martín e marcharam três quilômetros até o Estádio Único da cidade. A passeata levou o lilás da luta feminista, o verde, símbolo da pauta do aborto legal, e o arco-íris da comunidade LGBT.
Mulheres de diferentes raças, origens, identidades de gênero e orientações sexuais se uniram à manifestação para fortalecer a luta pela descriminalização do aborto e exigir o fim do feminicídio, do tráfico e da exploração de mulheres e pessoas LGBT.
As manifestantes também passaram pelo palácio de governo, denunciando os cortes no orçamento de políticas públicas e programas voltados para a promoção da igualdade de gênero.
Muitas mulheres também levantaram bandeiras contra o atual presidente argentino, Mauricio Macri, torcendo pela possível derrota do mandatário nas próximas eleições para Alberto Fernández, candidato pela coalizão de centro-esquerda Frente de Todos que venceu as primárias realizadas no país no dia 11 de agosto.
Organizações indígenas e comunitárias também exigiram o fim do extrativismo, da mineração, da poluição e do aquecimento global. Essas questões, segundo as militantes, têm despertado preocupação em todo o planeta e são resultado direto do capitalismo e do neoliberalismo.
O evento contou com a participação da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito, o coletivo Ni Una Menos, o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) do Brasil, a Assembleia de Feministas de Abya Yala, a Organização Nacional de Mulheres Indígenas dos Andes Peruanos e da Amazônia (Onamiap), o Conselho do Povo Maya K’iche, o Movimento de Mulheres do Curdistão, a Mala Junta, entre outras entidades.
O Encontro Plurianual do ano que vem será realizado na cidade de San Luis. As participantes votaram pela continuidade das atividades plurinacionais todos os anos para continuar construindo a luta para erradicar o sistema capitalista e colonialista e construir um mundo melhor e mais justo.
Edição: Peoples Dispatch | Tradução: Aline Scátola