Quem me contou foram os jornais

Faroeste Senado: o dia que o pai de Collor matou um parlamentar

Então empossado senador, Arnon de Melo não pensou duas vezes ao disparar contra um inimigo político em plena sessão

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Em 1963, a confusão no senado deixou um inocente morto, e dois inimigos políticos detidos
Em 1963, a confusão no senado deixou um inocente morto, e dois inimigos políticos detidos - Acervo Globo

Nos corredores e salas onde circulam o poder, nem sempre o dedo que está no gatilho volta atrás, como aconteceu com o ex-procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ao revelar o dia em que saiu de casa com o objetivo de assassinar o juiz do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes: “o dedo ficou paralisado”.
Em 4 dezembro de 1963, o senador Arnon de Melo, pai do ex-presidente Fernando Collor, puxou o gatilho em plena sessão do Senado Federal, na tentativa de atingir o seu desafeto político e pessoal, também senador, Silvestre Péricles que, na década de 1950, havia perdido a disputa eleitoral ao governo de Alagoas para Arnon de Melo. Uma conjuntura política acirrada, dois inimigos públicos e armas foram fórmula ideal para culminar numa tragédia.
Arnon elegeu-se senador em 1963. De acordo com a revista Manchete, a esposa e seus irmãos vieram à cerimonia de posse todos armados. Nos últimos quinze dias, a família havia se preparado: "exercitara o manejo das armas e o tiro ao alvo".
No início de dezembro, o clima agressivo havia chegado ao limite. No dia 4, Arnon de Melo pediu licença para direcionar sua fala "ao nobre senador Silvestre Péricles”, que o teria “ameaçado de morte". Silvestre gritou: "Canalha! Crápula! Cafajeste!", foi o momento em que Arnon sacou a arma e efetuou três disparos em plena sessão, atingindo o Senador José Kairala, do PTB do Acre, que havia sido recentemente empossado como suplente. 
Silvestre havia se desviado dos tiros e foi agarrado pelo Senador João Agripino (primo do nosso conhecido José), que impediu o disparo de resposta. Os dois inimigos foram detidos, o inocente senador José Kairala morreu cinco horas depois de ser atingido no abdômen. “O ódio velho não cansa”, dizia a conclusão da reportagem.
*Leonardo Cruz é historiador e mestre em História.
 

Edição: Isadora Morena