O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu na noite desta sexta-feira (18), em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, a Salva de Prata, principal honraria da casa.
A premiação ocorre em reconhecimento à defesa da Reforma Agrária, pauta histórica do MST, e da alimentação saudável, assim como por seu modelo de produção agroecológica.
Durante a sessão, o membro da direção nacional do Movimento Gilmar Mauro lembrou dos milhares de companheiras e companheiros de MST que não puderam estar presentes para receber a homenagem, muitos dos quais perderam a vida lutando pela reforma agrária
"Dedicamos, embora de forma póstuma, com muita emoção, aos que antes de nós lutaram. Com eles aprendemos, trazemos a sua memória até hoje e levaremos até o dia em que conquistarmos a reforma agrária neste país", afirmou Mauro.
O dirigente reafirmou o compromisso da organização em seguir atuando em defesa da terra, da água e dos minérios como patrimônios da humanidade. "Enquanto existir um sem-terra, o MST vai continuar ocupando", concluiu.
Em sua fala, a presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann, afirmou que os 35 anos de luta do MST, foram um exemplo de organização para o PT
Hoffman também afirmou que a luta pela democratização da terra é fundamental e considerou a experiência dos acampamentos e assentamentos do MST um exemplo prático da transformação promovida pela distribuição da terra e da produção agrícola com diversidade. “A economia melhora significativamente nas cidades onde tem acampamentos e assentamentos do MST”, agregou.
A salva de prata entregue ao MST nesta sexta-feira (18) é a mais alta honraria da Câmara Municipal de São Paulo (Foto: MST)
A proposta de concessão do prêmio foi apresentada pelo vereador Jair Tatto (PT), que presidiu a sessão solene.
Tatto -- que também é autor da lei que incluiu a Feira da Reforma Agraria no calendário oficial da cidade -- afirmou que o protagonismo do MST na produção e divulgação da alimentação saudável e da agroecologia foi fundamental para a aprovação do prêmio entre os vereadores. Foram 37 votos a favor, 8 contrários e duas abstenções.
“Vários vereadores reverteram seu voto. Foi um momento de explicar o que é uma produção orgânica, o que significa a Feira Nacional da Reforma Agrária, um dos grandes eventos da cidade de São Paulo”, disse Tatto.
MST em São Paulo
Entre 11 e 12 mil famílias integram as fileiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de São Paulo. Com base em alimentos saudáveis, diversificados e livres de agrotóxicos, assentados e acampados protagonizam uma linha de produção com leite, mandioca, grãos, mel, hortaliças e frutas, entre outros alimentos.
As regiões de Andradina e do Pontal do Paranapanema concentram a maior parte dos camponeses sem-terra no estado, com 5 mil e 4 mil famílias, respectivamente. Leite, grãos e hortaliças compõem o grosso da produção dentro das fronteiras paulistas.
Na Cooperativa dos Agricultores da Reforma Agrária de Andradina (COAPAR), o leite produzido pelos camponeses é beneficiado e transformado em manteiga, queijo, iogurte e leite em pó.
O assentamento Cafeeira fica a 14 quilômetros de Andradina, regional que conta com 4.700 famílias do MST. Ali, são produzidos 70 mil litros de leite todos os dias. Além disso, os camponeses também cultivam milho, feijão de corda, mandioca, abóbora, manga, abacaxi, urucum e quiabo.
O assentamento Dandara existe desde 2004, mas a área já havia sido ocupada pelos sem-terra sete anos antes, em 1997. Lá se cultiva alface, almeirão, espinafre, couve, repolho, cebola, cenoura, beterraba, berinjela, quiabo, jiló e tomate.
Mas não só, no Dandara também se produz temperos (como alecrim e manjericão), frutas (como acerola, tamarindo e mamão) e, agora, os assentados avançam no sentido da agroindústria, com mandioca e abóboras descascadas e embaladas à vácuo para comercialização.
Nesta quarta-feira (16) os alunos das duas escolas do assentamento aproveitaram a celebração do Dia Mundial da Alimentação e fizeram uma visita à COPROCAM, responsável por processar parte da produção local. Os alimentos são escoados para diversos municípios do estado e feiras da reforma agrária, além de alimentar os alunos das escolas Tietê e Central.
O assentamento Pirituba, na região de Itapeva, sudoeste do estado, é um dos mais antigos de São Paulo: foi ocupado em 1984, logo antes da criação do MST, ao qual se incorporaria um ano depois. Ali, as cerca de 400 famílias se dividem em seis agrovilas.
Diferentemente do modelo clássico de reforma agrária, que prevê a criação de lotes geométricos e separados entre si, as agrovilas permitem a proximidade das casas e o compartilhamento das tarefas na colheita. Dessa forma, a convivência entre os camponeses e a construção da infraestrutura necessária ao funcionamento do assentamento também fica mais fácil.
Além disso, no Pirituba funcionam três escolas rurais (do infantil ao ensino médio), três postos de saúde, uma estação de rádio e várias estruturas de beneficiamento de grãos.
Premiações
A Salva de Prata não foi a única premiação que o MST ganhou em seus 35 anos de existência. Veja algumas delas:
Prêmio Itaú-Unicef Educação e Participação: em 1995, em reconhecimento ao programa educacional desempenhado em seus assentamentos.
Whitley Gold: um dos mais importantes prêmios ambientais do mundo, concedido em 2002, em reconhecimento ao trabalho inédito de conservação ambiental em assentamentos no Pontal do Paranapanema.
Prêmio Juliana Santili: Em 2003, na categoria “ampliação e conservação da agrobiodiversidade”, pela contribuição do MST à conservação da Mata Atlântica.
Prêmio Anual de Soberania Alimentar: Concedido em 2011 epla Coalizão Comunidade Soberania Alimentar (CFSC). A entrega aconteceu durante a 15ª Conferência Nacional da CFSC, na Califórnia, Estados Unidos.
Prêmio Guernica: Em 2013, o MST foi agraciado pelo Prêmio Guernica para a Paz e Reconciliação. O comitê de jurados considerou o movimento é uma organização de luta pela paz e pela Reforma Agrária no Brasil. A premiação ocorreu em Guernica, na Espanha.
Chapin Awards: Concedido pela organização estadunidense WhyHunger em 2016.
Edição: Rodrigo Chagas