O atual presidente da Bolívia, Evo Morales, deve ser eleito neste domingo (20) para o quarto mandato consecutivo. Essa é a aposta de Rebeca Peralta, mestra em Estudos Latino-Americanos e coordenadora do grupo de trabalho “Geopolítica, integração regional e sistema mundial” do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
A pesquisadora, que nasceu no México e tem nacionalidade boliviana, conversou com a reportagem do Brasil de Fato para explicar como o representante do Movimento ao Socialismo (MAS) conquistou tanta popularidade no país. Além disso, ela analisa os impactos de uma possível vitória de Morales para o continente.
“A Bolívia é líder em crescimento na região e tem um modelo econômico estável, baseado na soberania e na recuperação dos recursos naturais. Este modelo foi possível graças à nacionalização dos hidrocarbonetos [petróleo e gás, a partir de 2006], e garantiu um amplo processo de redistribuição de renda, reduzindo a desigualdade em 23 pontos percentuais”, ressalta.
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“Além da estabilidade econômica, a Bolívia tem estabilidade política”, acrescenta Peralta. É um governo que tem sido respaldado continuamente pela população. E isso está relacionado ao fato de que a maioria da população boliviana, que é indígena, teve seus direitos reconhecidos na Constituição de 2009”.
Hoje, a Bolívia tem mais de 30 idiomas oficiais, um sistema inédito de cotas para mulheres no parlamento e é um dos únicos em que os integrantes do Poder Judiciário são eleitos pela população.
Em relação aos impactos para a América Latina, a pesquisadora considera que o quarto mandato de Morales destruiria a narrativa de “fim do ciclo progressista” no continente. “Lembrando que essa narrativa já foi derrotada quando López Obrador ganhou as eleições no México, após mais de 70 anos de neoliberalismo”, observa.
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“Segundo todas as pesquisas, Evo Morales vencerá em primeiro turno, e assim se acabará essa história de ‘fim de ciclo’. E não apenas por causa da Bolívia. Estamos em um momento de turbulência na região que não se via há muitos anos”, afirma Peralta. “A revolta dos estudantes no Chile contra o aumento das passagens, a mobilização dos indígenas há uma semana no Equador e a provável vitória de Fernández na Argentina, no dia 27, são reações contra o modelo neoliberal. Enfim, há uma disputa de projeto, encarnada por Macri, Bolsonaro e Piñera, e um projeto alternativo que busca reduzir desigualdades e garantir a soberania. A vitória de Evo Morales mostrará que é possível construir modelos de Estado diferentes, que escapem à lógica neoliberal”.
Para vencer a disputa presidencial em primeiro turno, não é preciso fazer 50% dos votos válidos mais um, como no Brasil. Basta ter 40% e abrir dez pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado. Se houver segundo turno, a votação ocorrerá no dia 15 de dezembro.
Veja a entrevista com Rebeca Peralta:
Edição: Rodrigo Chagas