Eleitores do ex-presidente, Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã, iniciaram um protesto em frente ao hotel em La Paz onde o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) montou uma base de operações para sistematização e divulgação da apuração dos votos.
Cerca de 200 pessoas ameaçam invadir o prédio e gritam palavras de ordem afirmando que não acatarão o resultado da eleição, caso não se confirme a ida de Mesa a um segundo turno com o atual presidente Evo Morales. Manifestantes são majoritariamente jovens e dizem que não querem virar "uma Venezuela".
Havia uma coletiva e imprensa marcada para o local, com a presença de autoridades do TSE, do Órgão Eleitoral Plurinacional (OEP), observadores internacionais, e jornalistas. A coletiva foi suspensa e até o momento não houve repressão por parte da polícia.
Atualização, às 21h13: No final da tarde, o protesto foi dispersado pela polícia com uso de bombas de efeito moral e gás de pimenta.
O resultado oficial das eleições bolivianas deste domingo (20) deve ser divulgado somente a partir de terça-feira (22). Com 84% das urnas apuradas no sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Parciais (TREP), Morales, candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), teria 45,3% dos votos, contra 38,2% de Mesa. Para vencer em primeiro turno, Evo precisaria abrir 10% de vantagem sobre o rival.
Mesa, que em um primeiro momento garantiu a seus apoiadores que estaria no segundo turno, passou a questionar os motivos da suspensão do TREP. "O TSE, sem o menor pudor, cancelou a contagem rápida de votos do TREP. É vergonha de um instrumento servil ao governo. Defenderemos o voto dos cidadãos contra a tentativa de nos impedir de participar do segundo turno", disse em suas redes sociais.
O opositor convocou por meio do Twitter seus eleitores a se manifestarem em frente aos órgãos eleitorais.
Hago un llamado a la movilización democrática de @ComunidadCBo, Comités Cívicos, partidos políticos y del CONADE, para que estemos en todos los tribunales electorales departamentales y en el @TSEBolivia para impedir que se repita un #21F. pic.twitter.com/k2fR9l9a1U
— Carlos D. Mesa Gisbert (@carlosdmesag) October 21, 2019
Nas eleições anteriores, o TREP costumava ser divulgado até 100% das urnas no mesmo dia da votação. A diferença, desta vez, é que a primeira parcial deixa o resultado da disputa presidencial em aberto, e por isso o TSE optou pela suspensão.
A Organização dos Estados Americanos (OEA), que acompanha o processo eleitoral boliviano com 92 observadores, questionou a decisão do TSE imediatamente após o anúncio da suspensão:
Misión de Observación Electoral d OEA sigue dando seguimiento riguroso al proceso electoral en #Bolivia. Fundamental q el TSE explique pq se interrumpió la transmisión de resultados preliminares y q el proceso de publicación de los datos del cómputo se desarrolle de manera fluida
— OEA (@OEA_oficial) October 21, 2019
Por meio do Twitter, a OEA anunciou reuniões nesta segunda-feira (21) com Carlos Mesa e também com o chanceler boliviano Diego Pary.
Na noite de domingo, após o anúncio do resultado parcial, Morales fez um pronunciamento oficial na sede do governo diante dos apoiadores. O atual presidente agradeceu pelo que chamou de "quarta vitória eleitoral", comemorou a obtenção da maioria legislativa, e indicou que não reconhecerá a realização do segundo turno até que sejam divulgados os resultados oficiais.
"Vamos confiar nos votos do interior", afirmou, em referência às urnas das regiões mais isoladas, cuja contagem é mais demorada. É nesses lugares, distantes dos grandes centros urbanos, que Morales obtém as maiores vantagens sobre os outros candidatos.
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Contagem parcial paralisada
Na Bolívia, existem dois caminhos para divulgação dos votos. Além do TREP, baseado nas informações que vêm dos colégios eleitorais, existe a recontagem manual dos votos de cada região. Este segundo caminho, que leva ao resultado oficial, costuma ser mais preciso e mais lento. Até a madrugada desta segunda-feira (21), a contagem estava em 10% das urnas apuradas.
O TREP foi suspenso no domingo (20) à noite, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral, para evitar confusão entre as duas apurações paralelas. "Queríamos evitar confusão. Um mesmo órgão não pode divulgar dois resultados diferentes", disse a presidenta do TSE, María Eugenia Choque.
Edição: Rodrigo Chagas