Representatividade

Protagonistas em ocupações, mulheres sem-teto debatem questões de gênero em São Paulo

Em encontro na sede do MTST, cerca de 600 militantes por moradia firmaram compromisso contra o sistema patriarcal

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Direitos e desafios, representatividade política e faces das violências contra a mulher foram os principais temas debatidos no evento
Direitos e desafios, representatividade política e faces das violências contra a mulher foram os principais temas debatidos no evento - Foto: Márcia Alves/Setor de comunicação do MTST

O último final de semana foi histórico para mulheres de ocupações que atuam na luta por habitação digna no estado de São Paulo. Nos dias 19 e 20 de outubro, o primeiro Encontro Estadual de Mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) reuniu cerca de 600 mulheres protagonistas de mais de 20 ocupações urbanas do estado. 

Direitos e desafios, representatividade política e faces das violências contra a mulher foram os principais temas debatidos no encontro realizado na sede nacional do movimento, em Taboão da Serra (SP). “É muito importante pensar na libertação de gênero em uma construção das mulheres que, conjuntamente, luta contra a opressão”, ressalta Amina Jorge, do setor de comunicação do MTST. 

As opressões de gênero, segundo ela, se expressam em elementos da sociedade patriarcal em que é delegado à mulher o papel de cuidar dos filhos e da casa, por exemplo. “Para que a atividade acontecesse, a gente montou uma creche --- que nós chamamos de ciranda --- que contou com mais de 200 ‘sem-tetinhos’. Eles participaram de várias atividades e isso liberou as companheiras para que pudessem participar do debate”, frisa. 

Nesse contexto, a ativista também cita as violências doméstica e obstétrica, além dos elevados índices de feminicídio no Brasil. Para as mulheres sem-teto e de periferia a vulnerabilidade aumenta, destaca Amina, especialmente pela ascensão de governos conservadores e de extrema-direita que estimulam a criminalização de movimentos populares.

Por esse entendimento, os debates realizados no encontro estadual não são novidade no MTST. Em diversos estados, o movimento possui experiências voltadas ao acolhimento de mulheres, por exemplo. “Em São Paulo, a gente tem a ocupação Tereza de Benguela, uma casa de mulheres na zona leste que lida não só com a violência, mas com o debate de gênero dentro do movimento”, conta Amina. 

No Primeiro Encontro Estadual de Mulheres, as plenárias e rodas de conversa também dialogaram sobre os ataques às políticas públicas de Saúde e Educação em um cenário de austeridade econômica e retrocesso de direitos. Em meio à intervenções artísticas, cada estado pôde partilhar suas prioridades e demandas específicas. Os grupos também propuseram saídas para os desafios enfrentados por mulheres no dia a dia. 

Nos outros estados onde o movimento atua, as mulheres devem realizar o mesmo debate durante os próximos meses. A proposta, de acordo com Amina, é que a chuva de ideias produza o Primeiro Encontro Nacional de Mulheres do MTST, previsto para o primeiro semestre de 2020.

Edição: Rodrigo Chagas