O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stedile está em Belém, no Pará, onde participou nesta sexta-feira (25) de um debate sobre neofascismo e resistência popular no Brasil, em evento da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo a análise de Stedile, o país nunca foi tão dependente do capitalismo mundial como é hoje e construção de uma alternativa deve ser necessariamente coletiva.
"No século XX nós tínhamos o seguinte valor: trabalho e estudo. Quem não trabalhava e não estudava, não era cidadão. Ao capitalismo financeiro não interessa mais o trabalho ou estudo. Prega-se o individualismo, que diz que você precisa se virar sozinho; o egoísmo, que diz que você precisa ser melhor que os outros; o consumismo, que diz que você precisa ter bens para ser feliz. Nenhum desses atuais medidores constrói solução coletiva. Se não houver solução coletiva, não haverá solução para o problema da atual conjuntura política", argumentou.
O evento na UFPA também teve a participação do professor do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf) Flávio Barros e foi mediado por Jheny Rodrigues, da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Horizonte agroecológico
Pela manhã, o líder do MST conheceu o assentamento Mártires de Abril, localizado em Mosqueiro, um distrito da capital paraense, e conheceu o Lote Agroecológico de Produção Orgânica (Lapo)
O Lapo começou a ser construído em 2005 e utiliza princípios da agroecologia para manter a biodiversidade, mas também produzir frutas não regionais, oleaginosas e essências florestais.
“Tintura, xarope, creme para massagem, gel de massagem, repelente. Tem vários tipos de fazer: os óleos e também tem a polpa de fruta de cupuaçu, maracujá. O ovo caipira que também produzimos galinha. O peixe é mais para autossustentação e o açaí, um dos mais comercializados é o açaí", explica Dona Téo, esposa do agricultor Mamede Gomes, assassinado em 23 de dezembro de 2012. Juntos, o casal foi responsável pela criação do Lapo.
Sem acesso a políticas públicas ou assistência técnica, Téo relata que a consolidação da experiência agroecológica se deve à luta da comunidade
“A ajuda é mais a solidariedade de alguns amigos, não tem nenhum projeto que possa financiar. Então é um trabalho de muito sacrifício, muita doação”.
Para o dirigente nacional do MST, a ideia é que a metodologia desenvolvida no Lapo seja aplicada a outros assentamentos do MST do Brasil.
“Estou muito feliz em conhecer o lote agroecológico construído pelo companheiro Mamede, infelizmente, assassinado. Ele é uma referência não só para a região amazônica, mas para todo o Brasil, ao lado da Dona Téo, que continua aqui resistindo e segue a mesma trilha de agrofloresta, galinha caipira. Eu estou muito feliz de conhecer esse ambiente que é na verdade é o projeto que nós queremos para todos os assentamentos: áreas agroecológicas, áreas de agrofloresta, área para produzir para todo o povo”.
Stedile explica que a escolha pela agroecologia implica em uma vida mais coletiva, em harmonia com a natureza, e, por fim, mais feliz.
“Aqui, a gente sofre um processo de desmercantilização: tira o dinheiro do olho e pensa-se mais em produzir comida boa para todo mundo”, assinala.
Ocupado em 1999, o assentamento tem com 92 famílias, totalizando cerca de 500 agricultores. Entre as frutas há produção de cupuaçu; açaí e coco. A produção de hortaliças é para subsistência das famílias assentadas.
Programação
O dirigente do MST permanece em Belém para ministrar a aula de questão agrária, dentro do Curso Realidade Brasileira (CRB), que será realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA) neste sábado (26) e domingo (27) -- organizado pela Frente Brasil Popular e o Instituto de Agriculturas Familiares.
Cerca de trinta militantes de outros estado como Maranhão, Roraima, Tocantins e Pará, que participam do Curso de Formação de Formadores Regional Amazônia, recepcionaram o dirigente no assentamento e também seguirão para o evento em Belém
Edição: Rodrigo Chagas