Movimentos populares, sindicatos e partidos políticos dos países que formam o Brics -- grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -- se reunirão em Brasília (DF) nos dias 11 e 12 de novembro para o “Brics dos Povos”. A data, o local e o nome do evento foram escolhidos para fazer um paralelo à cúpula que reunirá representantes de governos, a qual será realizada dois dias depois, também na capital federal.
Pesquisadores e militantes dos cinco países debaterão temas como imperialismo, crise econômica e política, solidariedade internacional e integração dos povos. A expectativa é que o evento reúna cerca de 300 pessoas. Entre os confirmados, estão representantes das organizações Numsa, sindicato de metalúrgicos da África do Sul; Safai Karmachari Andolan, movimento que reúne dalits (nível mais inferior pelo sistema de casta da Índia); e da Academia de Ciência Russa.
João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), uma das entidades organizadoras do Brics dos Povos, alerta para a superficialidade da reunião oficial entre governos que será realizada nos dias 13 e 14. “A Cúpula dos Brics vai reunir os governos e os presidentes. Tememos que suas pautas serão apenas meros acordos comerciais e de articulação financeira de projetos a serem financiados pelo Banco dos Brics”, explica.
“Os Brics são uma proposta de articulação regional que visa justamente denunciar o imperialismo dos Estados Unidos, pela dominação econômica, pelo dólar e pela manipulação de outros organismos internacionais, como FMI [Fundo Monetário Internacional], Banco Mundial e OMC [Organização Mundial do Comércio]”, completa, ressaltando o objetivo de criação do Brics.
Outro tema que preocupa os organizadores do “Brics dos Povos” é o avanço das forças ultraconservadoras em países como Brasil e Índia, o que impõe novos desafios em comum – inclusive do ponto de vista dos meios de comunicação e das redes sociais, para impedir que interesses externos sigam impactando os processos eleitorais.
“O Brasil e a Índia têm governos de direita, caracterizados como neofascistas. O do Brasil é totalmente subserviente aos interesses do governo dos Estados Unidos. Já a Índia tem contradições com o governo estadunidense, apesar de ser de direita a nível interno”, analisa Stedile. “O governo da África do Sul é um governo neodesenvolvimentista, mas em condições em que o apartheid econômico e social continua. Ao lado do Brasil, são os dois países de maior desigualdade social e de concentração de riqueza do mundo”.
Nalu Faria, da direção nacional da Marcha Mundial das Mulheres, aponta que um dos maiores desafios é buscar a unidade internacional diante das derrotas sofridas pela classe trabalhadora nos cinco países. “Houve uma mudança na disputa geopolítica no mundo. E nós, como povos, precisamos estar muito articulados para que as nossas demandas e a nossa soberania sejam colocadas em primeiro lugar”, afirma.
“É a nossa força como povo organizado que vai, nessa disputa geopolítica, garantir ou construir esse sentido de uma transformação que seja capaz de desmantelar todo esse sistema de opressão, exploração, discriminação. Nós queremos construir a luta desde uma perspectiva anticapitalista, entendendo que o capitalismo é um modelo patriarcal, racista, LGBTfóbico e depredador da natureza”, acrescenta a militante.
O Brasil de Fato fará uma cobertura especial do Seminário Brics dos Povos nos dias 11 e 12 de novembro, em Brasília (DF). Acompanhe nas nossas plataformas. Confira a programação prévia:
11/11/2019 – segunda-feira
Mesa 1: Imperialismo, geopolítica internacional, o papel dos Brics e dos povos
Mesa 2: Crise econômica, social e ambiental e as alternativas populares de desenvolvimento
12/11/2019 - terça-feira
Mesa 3: Crise Política Internacional e a luta popular
Mesa 4: Desafios do internacionalismo, da solidariedade e da integração dos povos
Edição: Camila Maciel