Tradição

“O surf é um esporte e um estilo de vida”, afirma surfista com 40 anos de experiência

Potiguar conta um pouco da história do esporte no estado e indica praias do RN

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Em todo estado, praias têm ondas tranquilas, para iniciantes, e mais poderosas, para profissionais
Em todo estado, praias têm ondas tranquilas, para iniciantes, e mais poderosas, para profissionais - Alexandre Alessy

No ano 1975, o jornalista Ricardo Holanda publicou aquela que é considerada a primeira reportagem registrando o surgimento do surf potiguar. O esporte, que ganhava força no estado, teve seu primeiro campeonato estadual realizado naquele mesmo ano, na praia dos Artistas. Dois anos depois, em 1977, foi criada também a Associação Natalense de Surf, a primeira do Nordeste.
Praticante de surf há 44 anos, o potiguar Henrique de Oliveira veio surfando nessa onda. O natalense começou a se aventurar nas praias aos 11 anos, em 1974, e, desde então, não parou mais. Nos 1980, junto a outros potiguares, Henrique começou a competir em torneios estaduais, regionais e nacionais, chegando a participar do Circuito Brasileiro nos anos 1986, 1987, 1988 e 1989.
Naquela época, o surf não tinha a visibilidade que tem hoje. De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje em dia, o Rio Grande do Norte conta com atletas de destaque a nível mundial, como Ítalo Ferreira, natural de Baía Formosa, que está entre os cinco melhores do mundo.
Estilo de vida
De acordo com Henrique, assim que começou a se popularizar, o surf começou a ganhar um caráter de “tribo”. Para ele, além do caráter esportivo, o surf também tem outra via, que á a da filosofia. “O surf é um esporte mas, ao mesmo tempo, é um estilo de vida. Tem sua própria vestimenta, seu próprio cinema, estilo musical, turismo. Há uma questão cultural e ambiental em torno do surf, que implica mudanças de comportamento e formas de viver”, conta, afirmando que esses valores uniam aquelas pessoas dentro e fora das águas.
No início, o surf era um esporte elitista, principalmente por conta do preço elevado pago em pranchas novas. Henrique conta que, para economizar, os surfistas compravam pranchas usadas ou desfaziam pranchas antigas para fazerem pranchas novas. “Hoje em dia, é diferente, está mais acessível, é bem mais democrático”, defende.
Ainda de acordo com Henrique, as condições naturais também colaboraram para que a cultura do surf fosse abraçada pelos potiguares. “A gente tem uma coisa que poucos estados brasileiros têm, porque quase todos os dias temos ondas, com ou sem vento. Tem lugares que não têm essa sorte. Já, em Natal, ou em cidades próximas, temos tipos de ondas que ajudam muito”, afirma.
Memórias
A paixão pelo surf e a preocupação em conservar e valorizar essas memórias fizeram Henrique escrever um livro registrando história do esporte no Rio Grande do Norte. “Fui buscando informações sobre a descoberta do surf no mundo, começando por Havaí, Peru, Austrália, aí entro no Brasil, começando pelo Rio de Janeiro, até chegar no Rio Grande do Norte”, conta.
Além do livro, Henrique também está montando, junto a amigos, um acervo com pranchas, fotografias e outros itens que narrem a história do surf potiguar. A ideia é levar adiante uma espécie de museu que registre essa história. Atualmente, o acervo conta com 110 pranchas de diferentes tipos e formas.
Onde praticar?
Com mais de 400km de litoral e condições climáticas majoritariamente favoráveis, o Rio Grande do Norte tem praias que atraem surfistas do mundo todo. De acordo com Henrique, o nível de experiência pode ajudar o surfista a escolher a praia ideal para praticar. Para os iniciantes, Henrique explica que as melhores ondas estão em Cotovelo, Genipabu ou Ponta Negra, na região próxima ao morro do Careca, onde as ondas são mais tranquilas.
“São praias que têm águas com ondas pequenas, com certa energia, certa força, mas que são tranquilas. Dá para dar aulas, passar as técnicas de proteção e segurança para a pessoa ir pegando a ‘manha’ da remada, de sentar na prancha, de toda a parte do equilíbrio”, indica.
Já os surfistas intermediários ou profissionais, encontrarão, em Natal, ondas mais desafiadoras em praias como Miami, que tem ondas mais rápidas e fortes e a própria Ponta Negra. “Na medida que for se afastando do morro do Careca, dá para encontrar uns seis tipos diferentes de ondas”, explica Henrique.
Explorando o resto do estado, tem ainda belas praias com fundos de pedra, os chamados point breaks. Dentre elas, estão as de Baía Formosa e algumas de Pipa, como a Lajinha, que conta com ondas poderosas.
Já no litoral norte, praias como São Miguel do Gostoso e São José, segundo Henrique, começaram a ser mais exploradas pelo surf no fim dos anos 1980 e, a depender da época do ano, o surfista pode encontrar boas ondas. Com ondas fortes em parte do ano, de janeiro a julho os praticantes encontrarão condições favoráveis para surfar na região. Já da metade para o final do ano, os fortes ventos são mais recomendados para práticas de outros tipos de esportes aquáticos, como o kitesurf e o windsurfe.
 

Edição: Isadora Morena