Com dez meses à frente da presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) coleciona ataques à imprensa livre e ao exercício do jornalismo. Neste sábado (2), é celebrado o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes Contra Jornalistas.
Um levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), divulgado às vésperas da data, aponta que ao menos duas vezes por semana, o presidente ataca jornalistas por meio de discursos, postagens em redes sociais e entrevistas.
Segundo o estudo da Fenaj, os casos levantados até 31 de outubro revelam 99 declarações ameaçadoras do chefe do Poder Executivo, sendo 11 delas contra jornalistas, e 88 ocorrências de descredibilização da mídia.
Para Maria José Braga, presidenta da Fenaj, Bolsonaro vê os jornalistas e a imprensa como adversários políticos e, mais do que isso, seus inimigos.
"Esse grande número de ataques do presidente à imprensa e aos jornalistas é uma demonstração de que a nossa democracia está, que nunca se efetivou completamente, está muito mais fragilizada. O presidente não tem respeito pela democracia e pelas instituições democráticas e vem demonstrando isso ao longo de sua vida pública", critica Braga.
O artigo 220 da Constituição Federal de 1988 estabelece que "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição" e que fica "vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística".
No entanto, o balanço da Fenaj mostra que, já no terceiro dia de mandato, Bolsonaro desferiu ataques à imprensa por meio de um vídeo em sua conta pessoal no Twitter. Na ocasião, o presidente afirmou que um de seus ministros, o general Augusto Heleno, fala o que "a grande parte da imprensa omite". Um caso, segundo a classificação da Fenaj, de descredibilização da mídia.
A expressão "mentira" foi uma das mais utilizadas pelo presidente para se referir à atividade jornalística no país. "Olha, as redes sociais é a imprensa livre que eu tenho", afirmou Bolsonaro em uma entrevista coletiva no mês de março.
Outro caso citado pela federação, foi o discurso na assembleia geral da Organização Nação Unidas (ONU) sobre a Amazônia, quando Bolsonaro afirmou que a floresta não estava "sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia".
"O presidente não pode utilizar o cargo para restringir essas liberdades, por meio de agressões, ameaças e medidas de retaliação contra veículos de mídia", assinala Braga.
Ela acrescenta que "a sociedade brasileira não pode aceitar o inaceitável; não pode naturalizar a arbítrio, a violência, o ódio e o obscurantismo como prática de governo e social".
A partir de agora, a Fenaj passará a divulgar o balanço mês a mês.
Edição: Rodrigo Chagas