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Trabalho escravo na cadeia produtiva do café

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Starbucks e Nespresso compravam grãos de produtor do Triângulo Mineiro que foi flagrado explorando mão mão de obra análoga à de escravos - Lilo Clareto/Repórter Brasil
Sem fiscalização, nada vai mudar

Ano passado, seis multinacionais foram denunciadas por financiar trabalho escravo em fazendas de café no Brasil. São elas: Nestlé, Jacobs Douwe Egberts, McDonald’s, Dunkin’ Donuts, Starbucks e Illy.

Se você tomou café hoje, provavelmente a bebida veio de uma das empresas aqui mencionadas. O café que você bebe tem aroma, sabor, intensidade e prazer. Mas tem também algo que você paga, mas não gostaria de consumir: trabalho escravo, violência, descaso com seres humanos.

A denúncia do trabalho escravo foi feita pela Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE-MG), em parceria com a Conectas Direitos humanos. A denúncia foi protocolada junto à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Passado um ano da denúncia, conversei com um dos coordenadores da ADERE-MG, Jorge Ferreira dos Santos. Perguntei o que mudou, o que as empresas fizeram para evitar que o trabalho escravo continuasse contaminando seus negócios. 

“A situação está pior a cada dia. As empresas não fizeram nada”, disse Jorge. Ele aponta que, de fato, houve uma piora, principalmente no que diz respeito à fiscalização dos órgãos de governo. “Sem fiscalização, nada vai mudar”, alerta.

O café brasileiro está entre os melhores do mundo, em termos de qualidade do produto. O que não falta ao café brasileiro são prêmios internacionais. Será que em algum momento esses prêmios vão considerar o valor da vida? Os custos sociais inerentes à produção?

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As empresas precisam dar uma resposta. A palavra está com Nestlé, McDonald’s, Dunkin’ Donuts, Starbucks, Illy e Jacobs Douwe Egberts, dona de várias marcas conhecidas, tais como Pilão, Caboclo e Café do Ponto.

O silêncio hipócrita do terceiro setor

Multinacionais têm por hábito fazer de conta que não é com elas quando o assunto é violação de direitos. O que surpreende mais, a cada dia, é a hipocrisia de organizações que deveriam enfrentar o problema e ajudar a denunciar, mas que fazem cara de paisagem, em troca do cheque que chega todos os meses, a título de “apoio” para enfrentar o trabalho escravo e outras violações dos direitos humanos.

As empresas que mais violam os direitos humanos são as que mais injetam dinheiro em organizações que poderiam denunciá-las. Por que será?

No setor do café, a última jogada de marketing se chama Pacto Setorial para a Sustentabilidade Social do Café. É um nome belíssimo, mas que em nada avança para conter as violações na cadeia produtiva do café. Violações que afetam principalmente as mulheres trabalhadoras, que envelhecem e morrem nas lavouras, sem nenhum tipo de garantia social.

A ADERE-MG, por exemplo, que fez a maior parte das denúncias de trabalho escravo no café, sequer foi convidada para participar do tal pacto.

“Esse pacto foi criado para nos calar, para calar a voz dos trabalhadores do café. É uma jogada de marketing para favorecer as empresas. Nunca fomos chamados para o debate. É um pacto ‘para inglês ver’, puro marketing ”, diz Jorge Ferreira dos Santos.

No enfrentamento do trabalho escravo, definitivamente, o Brasil já passou por melhores momentos.

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*Em 11 de março de 2020, a assessoria da illycaffè no Brasil procurou o Brasil de Fato para dar o seu posicionamento em relação às informações da coluna. Ainda que a Illy esteja formalmente denunciada pela ADERE e pelo Conectas, no documento enviado à OCDE, a empresa afirma que não possui relação com propriedades rurais que submetam trabalhadores a condições análogas de escravidão. Confira a nota na íntegra:

"Em resposta ao que foi publicado pelo Brasil de Fato, em 4 de novembro, informamos que a illycafè não comprou café de propriedades rurais registradas no Cadastro de Empregadores que submetem trabalhadores a condição análoga à de escravidão em 2018 e em 2019, nem direta nem indiretamente.

A empresa é capaz de rastrear a origem de todo o café comprado, bem como da propriedade e de seu produtor. Além disso, a illycaffè possui um registro completo e atualizado de fornecedores de cada ano-safra, não tornando essa lista pública por razões comerciais, inerentes a todas as empresas do setor.

A empresa exige de seus fornecedores o cumprimento de regras e padrões de sustentabilidade nas esferas social, econômica e ambiental, o que inclui o respeito à legislação trabalhista em cada propriedade.

A illycaffè possui equipe técnica que visita fornecedores regularmente em suas propriedades, entre outras medidas de fiscalização. Quando detecta qualquer violação de suas regras, suspende imediatamente o relacionamento comercial com o fornecedor em questão até que sejam apresentados mais esclarecimentos.

Com nossos cumprimentos,

Anna Illy, presidente da Experimental Agrícola do Brasil, e Massimiliano Pogliani, CEO da illycaffè SpA.

Edição: Katarine Flor