A ideologia de Bolsonaro, além de ineficiente, aprofunda a desigualdade social
“Não descarrega sua raiva em mim
A sua arma não vai me abater
Você é não, sou um milhão de sins
Tenho meu povo pra me proteger”
(Elza Soares – Virei o Jogo)
Temos nos espantado a cada dia, desde o fatídico 28 de outubro de 2018, segundo turno das eleições. Aquele momento que nos parecia um pesadelo, o candidato de ultradireita de fato ganhou e seria, logo mais, empossado como presidente do Brasil.
Nosso espanto? A capacidade de Jair Bolsonaro (PSL), e seus seguidores, em deferir ataques de todas as ordens a tudo que construímos duramente. Entre os temas mais recorrentes: a Cultura e a Educação.
Não os faltou saliva, ou juízo e noção, para destilar preconceitos contra peças de teatro, exposições, escritores, artistas, literatura de toda sorte, intelectuais de não importa o campo do conhecimento, universidades, escolas, educadores, estudantes, festas tradicionais etc.
O catálogo é grande. E, não parou por aí. O discurso de fato se tornou política pública. Nos seus dois sentidos, tanto na ação quanto na negação da ação.
No campo da Cultura, a primeira medida concreta foi acabar com o seu Ministério e a sequência foi desmantelar os investimentos culturais de empresas públicas, como a Petrobrás, a Caixa, o Banco do Brasil, os Correios e, óbvio, o BNDES.
Não contente com a restrição ao investimento público, foi a vez de colocar limites ao investimento privado, alterando as regras da Lei Rouanet. E, novamente, não parou por aí.
O desejo por destruição é tão grande que é necessário mais. Não basta tentar bloquear de todas as formas a diversidade da produção cultural brasileira, para eles, é fundamental atacar e dissuadir todas e todos que conseguem passar por sua peneira fina. Então, veio à cena a censura.
Somam-se casos de peças que foram sumariamente excluídas de editais ou que tiveram seus contratos encerrados ou modificados. Também, tem se somado os casos de ataques diretos a artistas e grupos. Após essas ações, várias pessoas do ramo já relatam autocensura, por medo de serem os próximos alvos.
Já na Educação, estamos no segundo anti-ministro da pasta e cada um, ao seu modo, conseguiu dar seu toque de maldade. É política de todo o tipo, desde a criminalização de organizações da educação, como sindicatos, entidades estudantis e associações de docentes, como também de corte de verbas para ensino, pesquisa e extensão, cancelamento de bolsas e até projetos de incentivo à militarização de escolas, a universidades públicas pagas, ao aumento do ensino a distância sem qualidade e, com certeza, à censura à livre docência.
O pior, como a maioria dos monstros, esse tem mais de uma cabeça. Já que, apesar de tudo, a esfera federal tem mais holofotes e é mais suscetível à pressão, tem caído para os estados e municípios o papel de serem laboratórios mais radicais da lógica absurda de Bolsonaro, seus mestres e seguidores.
Então, enquanto o Rio de Janeiro e São Paulo diminuem investimentos e aumentam a censura e a perseguição à Cultura; Amazonas, Distrito Federal, Goiás e Roraima têm experimentado, de forma mais atuante, a política de militarização de escolas, onde se coloca profissionais formados em tiro para cuidar de crianças, tendo já como resultado uma pilha de denúncias de abusos e violências, psicológicas, físicas e sexuais.
Sem falar nos estados que vêm mostrando trabalho na área ambiental e violência no campo, outros que aplicam a política de segurança de matar povo na rua para que milícias possam lucrar em paz e, como último exemplo aqui, todo o rol de estados que estão sendo fiéis à cartilha de costumes e valores conservadores, leia-se: preconceituosos e discriminatórios.
Não importa de que ponto de vista se olhe, quem mais está sendo prejudicado com esta “nova política” é o povo. É o seu presente e o seu futuro que está em jogo.
Ao mesmo tempo em que a destruição das políticas culturais põe fim em milhares de empregos diretos e indiretos, colocando em risco o presente não somente de artistas, mas de outros profissionais como costureiras, maquiadoras, cabeleireiras, iluminadores, montadores, figurinistas, vigilantes, brigadistas, eletricistas, mecânicos, motoristas etc., sem contar os milhares de empregos indiretos em dezenas de ramos; a irresponsabilidade nas políticas educacionais coloca em risco a capacidade da periferia em mudar a história de suas famílias, de construir um futuro melhor do que está sendo o seu presente.
A ideologia do atual governo federal, que se reverbera, se incentiva e se promove nas várias esferas de poder do país, além de ser ineficiente, já que é incapaz de atingir seu objetivo, aprofunda a desigualdade social.
Na guerra que este pensamento faz contra toda a diversidade brasileira, seja na Cultura ou na Educação, tentando a todo custo pregar uma política de apagamento e de reescrita da história, nós, o povo, somos quem está pagando a conta. Mas, isso tem que acabar, mesmo que for “no dia em que o morro descer e não for carnaval”.
Edição: Rodrigo Chagas