Em um discurso duro contra Jair Bolsonaro (PSL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu as medidas de distribuição de renda de sua gestão e atacou as medidas liberais do atual governo.
Ele convocou a multidão que se aglomerou em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), a se mobilizar contra o desmonte do Brasil.
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“Não tem ninguém que conserte esse país, se vocês não quiserem consertar. Não adianta ficar com medo das ameaças que ele faz na tevê, que vai ter miliciano, que vai ter AI-5. A gente que ter a seguinte decisão: esse país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os milicianos acabem com esse país que construímos.”
Lula questionou a capacidade de Bolsonaro e Paulo Guedes em dar respostas à economia do país. “O que vejo é que o povo ficou mais pobre, com menos saúde, menos casa, menos emprego. Mais de 40 milhões, 50% da população está ganhando R$ 423 por mês. Seria importante que ele fizesse o que vocês fazem: pegar R$ 423 e sustentar a família, pagar transporte para trabalhar. Queria que ele fosse pro médico, comprar remédio. Eu acho que não tem outro jeito”, argumentou.
O ex-presidente também criticou a postura de Bolsonaro em seus pronunciamentos públicos e lamentou o desrespeito do atual presidente com mulheres, negros, LGBTs e com as pessoas mais frágeis da sociedade.
Segundo Lula, essa postura de Bolsonaro também se traduz em suas ações de governo. “Quero saber porque esse cidadão que se aposentou muito jovem quis tirar aposentadoria do povo brasileiro. Quero saber porque esse cidadão que nunca ganhou salário mínimo quer congelar o salário, que nunca teve a carteira profissional azul quer criar a carteira verde amarela que vai ter empregos intermitentes. Não vai ter registro em carteira. Eles estão apresentando um projeto econômico que vai empobrecer cada vez mais a sociedade brasileira”.
Lula iniciou seu discurso atacando a Rede Globo de Televisão e lembrando a rotina que tinha durante o período em que ficou preso. “Foram 580 dias numa solitária”, declarou. O ex-presidente defendeu a decisão de se entregar à Polícia Federal no dia 7 de abril de 2018.
“Quero repetir algo que falei: o homem e a mulher, quando tem clareza do que quer na vida, do que eles representam e que seus algozes estão mentindo -- e eu poderia ter ido a uma embaixada, outro país --, mas eu tomei a decisão de ir lá. Preciso provar que o juiz Sérgio Moro não era um juiz, era um canalha. Dallagnol não representa o Ministério Público, que é uma instituição séria. Ele montou uma quadrilha na força-tarefa da Lava Jato. Quem fez inquérito contra mim, mentiu em cada palavra. Se eu saísse seria um fugitivo.”
Justiça para Marielle
O ex-presidente cobrou justiça no caso de Marielle. Lula disse que Bolsonaro foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para os milicianos do Rio de Janeiro. “Não é a gravação do filho dele que vale. É preciso que haja uma perícia séria para que a gente saiba definitivamente quem matou Marielle.”
“Tesão de 20”
Lula reafirmou a posição de não agir movido pelo ódio. “Aos 74 anos, eu não tenho direito mais de ter ódio em meu coração. Eu não sabia que ia me apaixonar aos 74 anos de idade. Eu estou com 74 anos, energia de 30 anos e tesão 20 anos. Eu estou de bem com a vida e vou lutar por esse país”, apontou.
Ele relembrou as políticas afirmativas do seu governo. “A única coisa que me motiva nesse país é que nós já provamos que é possível governar para o povo mais necessitado. É possível colocar pobre na universidade, o povo nas escolas técnicas. Provamos que em 12 anos geramos 22 milhões de empregos com carteira assinada”, apontou.
Inocência
Lula agradeceu os advogados Valeska e Cristiano Zanin e lembrou que sua luta é para que os processos contra ele sejam anulados. “O que nós queremos agora é que seja julgado o habeas corpus que demos entrada nos STF [Supremo Tribunal Federal] anulando todos os processos feitos contra mim. Existe argumento suficiente para provar. Não sem rancor: [Sergio] Moro é mentiroso, [Deltan] Dallagnol é mentiroso. Não é por causa do que foi publicado pelo The Intercept, é pelo que escreveram na minha defesa. Só tem uma explicação para o que fizeram no processo, foi para me tirar da disputa eleitoral.”
América Latina
Lula ressaltou a importância dos resultados recentes nas eleições em países vizinhos. Ele comemorou a vitória da chapa de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, na Argentina, e manifestou sua torcida por Daniel Martínez, da Frente Ampla, no Uruguai, “para evitar a volta do neoliberalismo”.
Sobre a Bolívia, o ex-presidente denunciou a pressão golpista da oposição contra o presidente reeleito Evo Morales. “Estão fazendo o que o Aécio fez quando Dilma ganhou dele.”
O petista pediu solidariedade à luta do povo chileno contra o neoliberalismo e ao povo venezuelano na luta contra o bloqueio econômico e às ameaças estadunidenses. “Podemos fazer críticas a qualquer governo do mundo, mas quem decide sobre os problemas do país é o povo do país. O [Donald] Trump que resolva o problema dos americanos. Ele não foi eleito para ser o xerife do mundo. Ele que governe os Estados Unidos e cuide da pobreza de lá.”
Por fim, Lula contestou a iniciativa de Trump em construir um muro separando os Estados Unidos do México. “Eles que celebraram a queda do muro de Berlim estão construindo um muro contra pobres. Não podemos aceitar isso”, assinalou.
"Estou de volta"
No final do discurso, o ex-presidente voltou a convocar os brasileiros a reagir às medidas neoliberais de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. “Um povo como vocês não depende de uma pessoa, dependem do coletivo. Cassaram Lula e [Fernando] Haddad quase é eleito presidente da República. Tenho certeza de que se a gente tiver juízo, se souber trabalhar direitinho, em 2022 a esquerda, que Bolsonaro tem tanto medo, vai derrubar a ultradireita. Esse país não merece o governo que tem. Não merece um governo de um presidente que manda os filhos todos os dias contar mentiras, através das fake news”.
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Edição: Camila Maciel e Rodrigo Chagas