O embaixador da Bolívia no Brasil, Jose Kinn Franco, recebeu, nesta terça-feira (12), na Câmara dos Deputados, uma moção de repúdio ao golpe no país enviada pelo Parlamento do Mercosul (Parlasul).
O documento contou com os votos favoráveis de 45 deputados em reunião ocorrida na segunda (11), na sede da entidade, em Montevidéu, e sinaliza também um movimento de solidariedade a Evo Morales, que renunciou no último domingo (10) após intensas pressões de opositores, com apoio das Forças Armadas.
A moção foi entregue pelas deputadas Fernanda Melchiona (PSOL-RS) e Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que participaram do encontro com representantes latinos. A moção reúne apoios de parlamentares de quatro países-membro, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
O documento foi concebido após deputados bolivianos fazerem um relato junto à entidade sobre a situação atual de turbulência política no país andino.
“É uma moção muito forte, que se posiciona claramente contra o golpe de Estado, traz a preocupação com a violência, a perseguição aos indígenas, com o caráter racista e, ao mesmo tempo, [traz] o compromisso do Parlamento do Mercosul de não reconhecer nenhum regime que seja oriundo do golpe de um Estado contra o povo boliviano”, disse Melchiona.
Perpétua Almeida informou que o grupo de deputados do Parlasul firmou também um compromisso conjunto no sentido de seguir denunciando internacionalmente o golpe. “Nós vamos ficar em constante mobilização”, disse.
Jose Kinn Franco recebeu o documento durante uma reunião com lideranças dos partidos de oposição na Câmara, que reúnem as siglas PT, PCdoB, Psol, PDT, PSB e Rede. A agenda contou também com manifestações de apoio dos embaixadores de Cuba e da Nicarágua no Brasil, Rolando Gonzáles e Lorena Martínez, respectivamente.
“É uma demonstração muito grande de solidariedade internacional”, considera o líder do PT, Paulo Pimenta (RS), que ajudou a articular o encontro.
Ao agradecer as manifestações, Franco destacou, mais uma vez, as características do movimento de oposição que levou à renúncia de Evo, ressaltando as diferenças de classe social que marcam o país.
“[Os opositores] não podiam entender – e não queriam entender – que um indígena, uma pessoa do setor popular, fosse presidente e constituísse um governo. É um componente racista mais o componente dos interesses, sobretudo os da elite mais conservadora, mas o que interessa é que os Estados Unidos configuraram um quadro de permanente tentativa de golpe”, disse o embaixador.
Em coletiva de imprensa, ele afirmou que não tem conversado diretamente com Evo Morales, mas que mantém contato com o ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Diego Pary Rodríguez, para que a denúncia do golpe seja feita permanentemente. Morales está atualmente no México, onde obteve asilo político.
Franco também informou que ainda não houve alterações oficiais, por parte da Bolívia, nas representações diplomáticas do país. “O que ocorreu foi que alguns embaixadores renunciaram numa atitude de solidariedade a Evo”, disse, citando como exemplo o caso do emissário do país na França.
“Temos algumas tarefas a cumprir, por isso eu ainda não renunciei, mas vou renunciar em algum momento também", informou.
Franco disse ainda à imprensa brasileira que a ideia é percorrer o mundo para denunciar a situação política da Bolívia.
Edição: Rodrigo Chagas