Após uma série de debates sobre o atual cenário político internacional, o seminário Brics dos Povos se debruçou na tarde desta terça-feira (12) sobre a necessidade articulação das lutas sociais em escala global.
A mesa -- “Desafios do Internacionalismo, da Solidariedade e da Integração dos Povos – encerrou os painéis de discussões que compuseram o seminário, realizado em Brasília.
O sul-africano S'bu Zikode, dirigente do Abahlali baseMjondolo (“moradores de barracos” em zulu), movimento que organiza moradores de áreas periféricas do país, apontou a solidariedade política como uma saída para o isolamento que organizações populares não vinculadas a governos ou Estados enfrentam.
Zikode destacou a necessidade de que, para além da troca de experiências, as próprias lutas se articulem.
“O internacionalismo pode ser bem-sucedido quando nós conseguirmos conectar nossas lutas nacional, regional e internacionalmente. Nós devemos compartilhar programas de ação. Temos que desenvolver mecanismos sistemáticos de solidariedade”, disse.
Bhasha Singh, jornalista indiana do Safai Karmachari Andolan, afirmou que a integração das lutas é uma necessidade diante do fato de que, do outro lado, os adversários das organizações populares já o fazem. Ela mencionou a luta que ocorre na Índia contra a limpeza manual de esgotos, imposta a setores sociais considerados inferiores. Em sua opinião, o conteúdo dessa discriminação, de caráter racial, se repete sob diversas outras formas em outros países.
“Em nosso tempo, os governantes fascistas ao redor do mundo estão unidos, eles ajudam uns aos outros, os líderes estão unidos contra seus próprios povos. Eu acho isso uma grande oportunidade para os povos. De consolidar o outro lado. Nós, os povos do mundo, colocando um obstáculo a esses líderes”, apontou.
A indiana defendeu também a necessidade de se debater entre os movimentos a construção de formais mais institucionais de integração internacional, cogitando a hipótese de reformular a experiência das internacionais socialistas, permitindo a participação de diversos formatos de organização.
Integrante do Partido Comunista dos Trabalhadores Russos, Aleksandr Mironov abordou a questão do recrusdecimento da direita ao redor do globo, afirmando que, a superação da extrema-direita, em última instância, está relacionada com superação do próprio capitalismo.
“O fascismo é a uma forma extrema de ditadura do grande capital. O fascismo é um efeito constante do capitalismo, servindo como uma ferramente para esmagar o movimento popular. Enquanto existir o capitalismo, o fascismo reaparecerá”, afirmou.
Mironov apontou como lacuna em nível internacional das organizações populares a ausência de “unidade estratégica”. Em sua visão, uma das tarefas da esquerda é equilibrar a diversidade de perspectivas com a necessidade de ações concretas conjuntas.
“Eu entendo que nem todos movimentos realmente servem aos interesses dos povos. O que precisamos é critérios claros para separar organizações realmente representativas dos interesses populares de outras”, propôs.
Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres, afirmou ser um imperativo, nesse sentido, a construção de um modelo baseado em maiorias, sem o desprezo da especificidades que atravessam essas amplas composições.
“Qualquer ação que tenha como eixo a questão anti-imperialista, tem que conectar essa dimensão com os anseios da maioria da população. Nós temos que incorporar a luta da juventude, dos negros, dos povos indígenas, das mulheres. Não como listagem de reivindicações, mas como um projeto que desmonte todas formas de opressão e exploração”, apontou.
Ao final dos debates, uma carta com a síntese das discussões e propostas foi lida. O documento foi entregue a parlamentares brasileiros e deverá ser encaminhado às embaixadas dos outros países que compõem o Brics.
Edição: Rodrigo Chagas