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Agricultoras unem cultura nordestina e produção saudável na zona leste de SP

Nós sabemos o que estamos plantando

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Algumas das agricultoras urbanas que compõem o coletivo
Algumas das agricultoras urbanas que compõem o coletivo - Divulgação/Facebook Mulheres do GAU
Nós sabemos o que estamos plantando

A paixão por cultivar a terra e cozinhar une nove agricultoras urbanas no bairro União de Vila Nova, na Região Leste da capital paulista, há cerca de dez anos. Maioria de origem nordestina, elas compõem o coletivo Mulheres do GAU, o Grupo de Agricultura Urbana, e viram no projeto uma oportunidade de renda, independência e conexão com seu território.

No ano de 2006, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) revitalizou diversas áreas da região. Na época, foi construída uma horta comunitária no Viveiro Escola. Em cerca de dois mil metros quadrados, essas mulheres cultivam hortaliças, frutas e PANCs, as Plantas Alimentícias Não Convencionais, sem o uso de agrotóxicos.

Além de comercializados para a comunidade, esses ingredientes também são incorporados em receitas  que resgatam a essência da cozinha nordestina. Pratos tradicionais são reinventados pelas cozinheiras, como galinhada com ora-pro-nóbis, moqueca de banana pão e patê de biomassa.

Uma das trabalhadoras, a pernambucana Vilma Martins, 49, é cozinheira e coordena o grupo. Ela afirma que o projeto tem a finalidade de empoderar e gerar renda para as mulheres da região, que vieram para São Paulo em busca de oportunidade de emprego.

“A gente veio de tão longe. Eu passei três dias no caminho. Cheguei aqui com os pés todos inchados, procurando algo melhor para mim e para minha família. Aqui, eu costumo dizer, a gente encontrou um lugarzinho para voltar às nossas origens”, relata.

O coletivo também prepara cafés e almoços para eventos e festividades com base na culinária orgânica. A sustentabilidade é um fator importante para as agricultoras. Além de não usarem agrotóxicos, elas também deixaram de lado os descartáveis.

“A gente se sente agradecida por estar produzindo isso para nós e para nossa família, e também por estar passando isso para outras pessoas. Quando fazemos os almoços, ou quando levamos cafés, temos o prazer de dizer: 70% desses produtos que vocês estão comendo é tirado da horta do nosso quintal", afirma Martins. "Nós sabemos o que estamos plantando", completa a cozinheira.

Mensalmente, as agricultoras conseguem obter renda entre 500 e mil reais. A baiana Aldinéia Pereira da Silva, 40, está em São Paulo há 12 anos. Ela afirma que o coletivo também é uma forma de adquirir independência e lutar contra o machismo que enfrentam dentro de casa. No caso de Silva, o trabalho na horta também ajuda na maternidade.

“Consigo dar atenção para minha filha. O mercado de trabalho é cruel, a gente chega em casa e tem que dar prioridade sem saber ao quê, porque tem a organização da casa, os filhos. Mas aqui eu estou vizinha de casa, já não perco tempo com transporte, posso receber minha filha no viveiro. Para mim é tudo”, conta.

Agora, o coletivo Mulheres do GAU trabalha para conquistar o selo de produção orgânica. A certificação é importante para estender as vendas a empreendimentos como restaurantes, hotéis e supermercados, e é vista com esperança pelas agricultoras.

Edição: Michele Carvalho