O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Prefeitura Municipal de Baixo Guandu (ES) realizaram a primeira Feira Popular de Saúde dos Atingidos nesta sexta-feira (15). O dia marca os quatro anos da chegada da lama ao estado do Espírito Santo, produto do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015.
Cerca de 250 atingidos e atingidas pelo crime da Samarco/Vale/BHP Billiton participaram da atividade. Pela manhã, um ato político seguido de uma mesa de debates sobre a situação de saúde dos atingidos contou com a participação do prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB), do secretário estadual de saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, da pesquisadora Dulce Pereira e de representantes de secretarias municipais de saúde de municípios capixabas, representantes do Ministério Público Federal e dos atingidos e atingidas do estado.
O prefeito destacou a importância do MAB para o fortalecimento da organização dos atingidos ao longo da bacia do Rio Doce. “Em primeiro lugar, quero agradecer imensamente ao MAB pela organização dessa atividade aqui em Baixo Guandu. Ninguém tem a exata noção da dimensão dos danos que essa tragédia provocou para o nosso povo”, afirmou. E terminou com uma mensagem de esperança aos atingidos: “Nós temos uma perspectiva, uma crença, uma confiança de que vamos vencer”.
A professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), ex-diplomata e pesquisadora Dulce Pereira fez um longo diagnóstico da situação de saúde das populações atingidas. Segundo ela, mesmo antes de consolidada a construção da barragem de Fundão, em Mariana, laudos técnicos do projeto apontavam sérios riscos, seja pela proximidade da barragem a comunidades ou mesmo o fato de a barragem de rejeitos ter sido construída ao lado de uma outra barragem de água, o que aumentava o risco de um desastre, como de fato ocorreu. “Não foi evento, foi um desastre que por diversas razões se tornou um crime”, atestou.
A pesquisadora também compartilhou alguns resultados de análises feitas em laboratório com peixes retirados do Rio Doce contaminado e que mostraram a presença de metais tóxicos em todo o organismo estudado. Além disso, segundo Pereira, o desastre acabou criando um ambiente propício para o surgimento de novos seres vivos nocivos à saúde humana. “Há vírus e bactérias que surgiram da contaminação com determinados metais tóxicos. Portanto, esse fenômeno causou mudanças químicas, físicas e biológicas em toda a bacia do Rio Doce, além das nascentes contaminadas.”
Já o secretário de saúde do estado afirmou que o governo de Renato Casagrande está promovendo um rompimento com a velha lógica da gestão da saúde no estado. “Nós queremos nos reposicionar nesse debate sobre os impactos e os direitos dos atingidos. Queremos criar ferramentas que empoderem vocês para seguir nessa luta”, disse Fernandes.
A última a falar foi a atingida de Baixo Guandu, Solene, que explicou a construção do Plano Municipal de Saúde no município, entregue durante o evento ao secretário. Entre outras ações, o documento defende a contratação de profissionais de saúde especializados para os municípios atingidos e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi sobrecarregado após a tragédia. “A população precisa de respostas. Esse plano vem nos ajudar a identificar os problemas da população e apontar soluções”, declarou.
No período da tarde, os atingidos participaram de oficinas e atendimentos de práticas integrativas de cuidado com a saúde, aulas de dança e capoeira, apresentações culturais e feira de alimentos saudáveis. A Feira Popular de Saúde dos Atingidos terminou com um tributo ao Rio Doce chamado de Festival Rock in Doce, com a presença de bandas capixabas como a consagrada Dead Fish.
Edição: Cris Rodrigues