Lideranças indígenas do povo Munduruku, do alto e médio Tapajós e do baixo Teles Pires, fizeram um ato contra invasões às suas terras, na Universidade de Brasília (UnB), nesta quinta-feira (21). O grupo viajou mais de 2 mil quilômetros, durante três dias, para entregar ao Ministério Público e à Fundação Nacional do Índio (Funai) um manifesto contra o garimpo ilegal e a instalação de hidrelétricas na bacia do Rio Tapajós.
O protesto é uma reação aos acenos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para a regularização da exploração por garimpeiros e mineradoras em terras indígenas, assim como para retomada das obras nas 43 hidrelétricas que compõem o Complexo do Tapajós.
Algumas usinas, como a Teles Pires e a São Manoel, foram construídas sem qualquer consulta aos povos tradicionais. Outras, como a São Luiz do Tapajós e a Chacoarão, são projetos prontos para áreas que incidem diretamente sobre terras indígenas e lugares sagrados aos Munduruku.
Alessandra Munduruku, uma das líderes no Tapajós, criticou o presidente e pediu demarcação de terra imediata das terras indígenas. “No dia em que ele [Bolsonaro] falou que não ia mais demarcar nenhum centímetro de terra para os indígenas, ele declarou uma guerra contra nós, porque ele está mexendo com a vida dos nossos filhos”, lamentou.
Ela ressaltou que os Munduruku vão resistir enquanto puderem para evitar a destruição das terras onde vivem. “Faz 519 anos que estamos resistindo, não vai ser em quatro anos que ele vai nos matar. Ele pode mudar as leis, mas a gente vai correr atrás para dizer: estamos aqui, sim. As mulheres estão aqui, as crianças estão aqui, os caciques estão aqui, os idosos estão aqui. Nós não vamos abaixar a cabeça!”, exclamou.
A região do Tapajós é a que mais concentra garimpo ilegal em toda a Amazônia, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Grande parte desses garimpos está dentro das terras Munduruku e, conforme indicam pesquisas recentes, a população indígena sofre também com a contaminação pelo mercúrio.
Ademir Kaba Munduruku, outra liderança dos povos do Tapajós, clamou por ajuda da população em geral. “Estamos aqui para que vocês falem para o governo de vocês que parem de criar projetos que vão levar destruição para o nosso povo. O Tapajós está morrendo por causa das atividades do garimpo”.
Edição: Julia Chequer