Já pensou em nunca mais precisar comprar gás para cozinhar? Essa é a realidade de algumas famílias agricultoras que têm em seu quintal um biodigestor, uma tecnologia social que permite que as famílias produzam no campo o seu próprio gás de cozinha.
Márcia da Silva e Vanderlei Pereira, da comunidade Casa Forte, localizada no município de Sobral, vivem essa realidade há dois anos. “Desde 2017, que foi o ano que chegou o projeto de biodigestor aqui em casa que eu não sei o que é comprar um botijão de gás”, afirma o agricultor.
No começo, a agricultora Márcia ficou meio desconfiada se essa história de nunca mais precisar comprar o gás era mesmo verdade. Mas as dúvidas acabaram logo quando a tecnologia social começou a mostrar os resultados: chama alta na boca do fogão a qualquer hora. A preocupação em cozinhar ligeiro para poupar o gás acabou para a família dos agricultores sobralenses.
“O biogás chegou e desde então vem mudando a nossa vida. Não temos mais a preocupação de acender o fogo e ficar com medo do gás acabar, ou cozinhar rápido pra economizar o gás. O dinheiro que a gente gastaria para comprar o botijão já serve para comprar outras coisas”, conta a agricultora.
O casal fez parte de uma experiência pioneira de construção de biodigestores realizada pelo Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra) em parceria com a empresa sueca Bento 50 AB no município de Sobral. Posteriormente foram construídos mais 37 biodigestores dentro dessa parceria.
A experiência foi tão exitosa, que foi multiplicada também pelo projeto Paulo Freire – uma parceria do Governo do Estado do Ceará com Organizações Não Governamentais. Até dezembro de 2020, serão 1678 biodigestores em áreas de famílias agricultoras de 17 municípios também da região Norte.
Uma tecnologia é tida como social quando ela, além de fornecer meios técnicos para o desempenho de determinada função ou trabalho, atua no sentido de promover maior interação e transformação social. Esse tipo de tecnologia foi desenvolvido pensando em incluir pessoas que tinham dificuldade de acesso a direitos fundamentais como a água, por exemplo, e também com base na economia solidária.
Assim como o biodigestor, são exemplos de tecnologias sociais a cisterna de placa para o armazenamento de água da chuva e o sistema de reuso de águas cinzas.
Biodigestor
O biodigestor é uma tecnologia social que possibilita a decomposição de matéria orgânica (fezes de animais) produzindo biogás e biofertilizante de alta qualidade. A sua estrutura é composta por um “alimentador” onde as fezes frescas são depositadas -- de lá elas descem por gravidade através de uma tubulação até chegar a uma caixa de cimento onde é depositado água para diluir o esterco. De lá, segue para outro espaço onde há uma caixa plástica que fica sobre o material orgânico. Esse espaço consiste num ambiente hermeticamente fechado na qual permite acelerar a decomposição do esterco gerando gás carbônico e metano.
Os gases são captados por um filtro feito de um garrafão de água de 20 litros e, por meio de um tubo seguem direto para a boca do fogão de casa.
Edição: Monyse Ravena