Pode ser divulgado nesta semana resultado do exame de DNA, que vai determinar se o corpo encontrado em um lago do Parque Natural Municipal do Pedroso, em Santo André, é do menino Lucas Eduardo Martins.
Foi estabelecido prazo de dez dias para finalização das análises, já que o processo de reconhecimento feito pelos irmãos de Lucas não foi conclusivo. O corpo foi encontrado no dia 15 de novembro, mas os responsáveis pela investigação não informaram se o prazo conta apenas dias úteis, o que aumenta a incerteza sobre a possível data para as respostas.
O garoto de 14 anos, morador da Favela do Amor, desapareceu no início da madrugada do dia 13/11, após sair para comprar um pacote de bolachas e uma garrafa de refrigerante em uma venda vizinha à residência em que mora com a mãe e os irmãos.
Familiares e vizinhos afirmam ter visto uma viatura da Polícia Militar em frente à casa pouco tempo depois da saída dele.
A mãe do jovem, Maria Marques Martins dos Santos, ouviu o barulho de um veículo e, na sequência, a voz do filho dizer “eu moro aqui”. Ao olhar pela janela, Maria diz ter visto o carro da PM.
Momento depois, ela conta que dois policiais bateram à porta, fizeram perguntas sobre os moradores, pediram para entrar e foram autorizados, mas desistiram na sequência.
::Dez dias após sumiço de menino Lucas, Favela do Amor vive em clima de medo::
DNA decisivo
Para a família a conclusão do exame de DNA pode esclarecer diversas dúvidas. Os parentes ressaltam também que Lucas não sabia nadar, o que na opinião deles extingue qualquer possibilidade de que ele tenha ido ao local por conta própria, caso se confirme que o corpo é do garoto.
O caso é acompanhado de perto pela Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, organização articulada por diversos movimentos sociais.
Ingrid Limeira, que faz parte da Rede, ressalta que impressiona o carinho que os moradores da Favela do Amor demonstram por Lucas e a mobilização em torno do caso por parte da comunidade, que fez diversos protestos cobrando uma solução.
“Todas as pessoas, além da família, todos os vizinhos e as crianças principalmente dizem que o Lucas era um menino bom, que era um menino tranquilo, gostava de todo mundo e que o único vício dele era o joguinho de celular. Quer coisa mais normal nos dias de hoje que um adolescente de 14 anos que gosta de joguinho de celular? Não teve uma única pessoa que dissesse que o Lucas era diferente.”
Prisão da mãe
No dia 19 de novembro, a mãe de Lucas, Maria Marques Martins dos Santos, foi detida ao chegar no Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Santo André para prestar depoimento sobre o caso do filho.
A família e a comunidade encaram a prisão como uma tentativa de tirar o foco das investigações sobre o sumiço do adolescente.
Ela já havia sido absolvida em 2012, por falta de provas, mas o Ministério Público recorreu e, em 2017, Maria foi condenada em segunda instância, mas não recebeu a notificação do oficial de justiça.
A mãe de Lucas constava como foragida no processo, mas a advogada, Maria Francisca Moreira Zaidan -- que atua tanto no caso de Lucas quanto na defesa de Maria -- ressalta que ela morava no mesmo local há nove anos.
Racismo na Justiça
Zaidan, que é presidente da comissão de igualdade racial e inclusão social da OAB de Santo André, reflete sobre a influência que o racismo exerce sobre decisões judiciais, prisões e processos criminais e afirma que buscar encerrar esse ciclo é uma preocupação que deveria mobilizar toda a sociedade.
“Está na hora da sociedade realmente cobrar de nossos governantes políticas públicas afirmativas no condão de combater a violência que acomete a população negra, LGBT+, mulheres e vulneráveis. Devemos nos ater de que abusos ocorrem não só com os filhos dos vizinhos, mas sim com os nossos também. A vida é uma corrente e se esta corrente se quebra, alguém sofrerá consequências e quem está na ponta mais fraca é quem mais sofre.”
Edição: Rodrigo Chagas