Assassinato

Líder quilombola é encontrado morto em área controlada pela Marinha

O corpo de Jozé Izídio Dias, 89 anos, apresentava sinais de violência por golpes de machado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A motivação do crime ainda é desconhecida
A motivação do crime ainda é desconhecida - Foto: Reprodução Facebook

O líder quilombola Jozé Izídio Dias, 89 anos, conhecido como "Seu Vermelho", foi encontrado morto dentro de casa, na noite de segunda-feira (25), no Quilombo de Rio dos Macacos, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador. O corpo apresentava sinais de violência por golpes de machado, que foi encontrado no local do crime, de acordo com relato dos moradores. 

A motivação do crime ainda é desconhecida. De acordo com a Polícia Civil, entretanto, há indícios de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte, ou vingança motivada por disputa de terra. A entrada no local, onde moram cerca de 85 famílias, é controlada pela Marinha do Brasil, que, há 50 anos, construiu a Vila Naval de Aratu no território quilombola, abrindo espaço para um conflito fundiário que se estende até hoje. 

Como a região é controlada por um órgão federal, a investigação deve ser conduzida pela Polícia Federal e por outros órgãos de segurança da União. Por enquanto, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) investiga o assassinato de José Izídio Dias. 

As organizações Ideas - Assessoria Jurídica Popular, Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais do estado da Bahia (AATR), Coletivo de Entidades Negras (CEN) e Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) acompanham o caso. As defensorias públicas do Estado e da União já foram acionadas. A Secretaria de Promoção da Igualdade da Bahia (Sepromi), órgão ligado à questão racial, também observa o caso de perto. 

O corpo da liderança quilombola foi removido às 2h da madrugada de terça-feira (26) após os moradores exigirem a presença de uma equipe para fazer perícia no local. 

O acesso, além de ser controlado, se dá por uma estrada de barro acidentada. Depois de um quilômetro da guarita da Marinha, se chega ao quilombo.

Titulação

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) delimitou a área em 2014. Um ano depois, o local foi reconhecido como sendo dos quilombolas. 

Até o momento, no entanto, a finalização do processo de titulação da área de 104,7 hectares ainda não foi finalizada, mesmo com sentença da Justiça Federal determinando a titulação coletiva de propriedade em nome da Associação Quilombola de Rio dos Macacos, que administra a área. No quilombo, não há iluminação básica, acesso a saneamento básico, ao sistema de saúde e à educação. 

Em nota, a Associação Quilombola de Rio dos Macacos afirmou que Seu Vermelho integrava o grupo de moradores mais antigos do território, palco de disputa de terra desde 1950, quando foi espoliado pela União para a construção de uma barragem no Rio dos Macacos. O contexto foi agravado pela construção da Vila Naval de Aratu, na década de 1970.

Segundo a entidade, os quilombolas tem um cotidiano “marcado pelo terrorismo de Estado, com mortes, agressões, estupros, expulsões de moradores, derrubada de moradias, saque, destruição de pequenas lavouras para subsistência e cerceamento da liberdade de locomoção”.

Procurada pelo Brasil de Fato, a Marinha do Brasil foi questionada sobre a confirmação da morte, o que se sabe até agora sobre ocorrido e o que está fazendo em relação ao caso. Em resposta, a assessoria de comunicação social do Comando do 2º Distrito Naval, responsável pela região, em nome da Marinha, confirmou a morte e disse que o caso está sob investigação.

Edição: Camila Maciel