Segundo a Fundação Cultural Palmares, há 60 comunidades quilombolas no Rio Grande do Norte. Dessas, pelo menos 22 comunidades já se reconheceram como tal e 20 estão em processo de regularização e reconhecimento pelo INCRA. Capoeiras é considerada a maior comunidade quilombola do estado e está localizada na área rural de Macaíba, há 65 km de Natal. Atualmente, conta com 350 famílias em seu território. É forte a ideia que todos compartilham de um mesmo traço genealógico, resultando na compreensão que seus habitantes pertencem a uma mesma família, no que fortalece o sentido de comunidade e identidade.
Durante a Guerra de Secessão dos EUA, Macaíba se tornou um importante centro comercial. A guerra fez com que os norte-americanos não produzissem o algodão necessário para os consumidores europeus, no que beneficiou a cidade. A partir disso, foram muitas as pessoas escravizadas que chegaram ao estado com o intuito de servir de mão de obra para cobrir essa demanda. Os negros escravizados vieram, sobretudo, de Pernambuco, instalando-se além de Macaíba, nos Engenhos de Cunhaú e nas regiões de Goianinha e Canguaretama.
A memória da comunidade é compartilhada, de maneira geral, a partir da oralidade, que vai sendo repassada de geração em geração. Os relatos dos moradores nos conta que a comunidade de Capoeiras foi formada ainda no século XIX por negros libertos oriundos da Serra do Martins, Vale do Açu, Ferreiro Torto e Engenho de Cunhaú. Antes da colonização, o território ela ocupado por índios tupi. Teria sido Luís Garcia e sua esposa “pulca”, vindos da Serra do Martins, os responsáveis por ocuparem as terras e darem início a comunidade.
Atualmente, seus habitantes vivem da agricultura de subsistência, da comercialização da mandioca e da fabricação de tijolos. Sua tradição religiosa mescla os valores do cristianismo católico e evangélico com aqueles de origem africana. A comunidade também se orgulha de uma antiga tradição, a dança do pau-furado, um folguedo, onde só participam os homens da comunidade, e mistura o coco de roda com o jogo de capoeira.
Somente nos anos de 1990 que a comunidade passou a se mobilizar para reivindicar o reconhecimento que ali era um remanescente de Quilombo. Foi de grande ajuda a participação de organizações e movimentos negros nessa luta pela valorização da cultura de Capoeiras. O resultado do encontro da líder da comunidade Lídia Basílio com Elizabeth Lima da Silva, militante da Entidade Kilomba, organização negra do RN fez com que a comunidade passasse a se reconhecer digna de direitos. Se antes, por vergonha, seus habitantes se declaravam os “morenos da Capoeira”, hoje, orgulhosamente se intitulam os “negros de Capoeira”.
Edição: Isadora Morena