Compreendidas por muitos anos como uma janela democrática para romper com o oligopólio das comunicações no Brasil, as redes sociais digitais devem ser estudadas com cautela. Esse foi o consenso do debate “A força e os perigos das redes sociais”, que reuniu jornalistas e pesquisadores na tarde desta sexta-feira (29) na capital baiana, Salvador.
A mesa faz parte do seminário “Os desafios da comunicação nas administrações públicas”, que acontece até sábado (30). O evento está em sua terceira edição e é organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Uma das debatedoras, Renata Mielli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), defendeu uma visão crítica em relação às plataformas digitais. “Os novos monopólios digitais estão matando a possibilidade democrática que a internet representou”, afirmou em referência a redes como o Facebook e o Whatsapp.
De acordo com Mielli, apesar de sinalizar uma alternativa ao modelo monopolista de comunicação no Brasil -- com muitos veículos nas mãos poucas famílias -- e de possibilitar que vozes historicamente silenciadas pela mídia hegemônica passem a ter espaço no debate público, as plataformas digitais têm sido pouco transparentes com seus usuários. Exemplo disso seria a falta de conhecimento sobre os critérios para ampliar ou diminuir a divulgação de um conteúdo.
“Essas plataformas não são apenas tecnologia, são os novos intermediários do fluxo de informação na sociedade. Isso tem facilitado irregularidades ou medidas que vemos como positivas, mas deveríamos pensar”, argumentou a jornalista citando a captura de dados sensíveis dos usuários feita por algumas redes.
Em referência às eleições presidenciais de 2018 e ao uso massivo de mensagens do WhatsApp, Mielli criticou o que denomina de “colonização de mentes” através de mensagens simples e por vezes com informações falsas.
O caminho, apontou a coordenadora do FNDC e Secretária-Geral do Barão de Itararé, é mobilizar a sociedade pela defesa de regras de distribuição de conteúdo mais transparentes, como as presentes no Marco Civil da Internet.
Democracia digital
Pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, Nina Santos foi outra das debatedoras. Em sua participação, ela destacou dados de um estudo de 2019, do Reuters Institute for the Study of Journalism, segundo o qual o consumo de informação online no Brasil chega a 87%, contra 73% do consumo pela televisão.
A mesma pesquisa mostra o Facebook como a principal plataforma de consumo de notícias pelos brasileiros e brasileiras, seguida pelo Whatsapp. De acordo com Santos, os dados refletem que as plataformas digitais condicionam a forma como as informações circulam na sociedade. Ela destaca, porém, que é preciso se distanciar de visões simplificadoras.
“Não se deve pensar o fenômeno das redes sociais digitais como algo que vai determinar o funcionamento democrático de uma sociedade, mas sim a forma com que essas tecnologias serão apropriadas”, argumenta. Os benefícios ou malefícios da internet, segundo a pesquisadora, estão nas mãos de quem a usa e nas políticas públicas que a regulam.
Como exemplo, ela retoma um dos conceitos do geógrafo e professor brasileiro Milton Santos, segundo o qual a técnica não pode ser vista como dado absoluto, mas como técnica já relativizada, tal como usada pelo homem. “É o uso que será feito que vai dar impactos positivos ou negativos para a tecnologia”, explica.
Também fizeram parte da mesa de debate o editor do site Carta Maior Carlos Tibúrcio e o jornalista Leandro Fortes. Na mediação, esteve Miguel do Rosário, blogueiro de O Cafezinho. A programação completa pode ser acessada aqui.
Edição: Vivian Fernandes