O evento é uma iniciativa da Rádio Yandê, a primeira emissora indígena do Brasil
O Yby será o primeiro festival nacional de música indígena contemporânea, idealizado e protagonizado por artistas e profissionais indígenas de diversos povos e regiões do país.
Entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro, o espaço Unibes Cultural, em São Paulo, será palco para todas as faces da arte indígena, que conversam com a cidade, em defesa do meio ambiente, dos territórios, da cultura e da vida dos povos tradicionais.
O evento é uma iniciativa da Rádio Yandê, a primeira indígena do Brasil. O festival é resultado de um mapeamento que reuniu as obras literárias e musicais da cultura indígena no país. Renata Tupinambá, que é jornalista, co-fundadora da rádio e uma das criadoras do Yby, explica como surgiu a ideia de fazer o evento.
"A gente percebia a necessidade de um projeto que fosse 100% indígena e que tivesse vários cuidados em relação aos estereótipos e estivesse realmente buscando uma real autonomia e independência na comunicação, porque para nós, a comunicação indígena é muito além. Nós trabalhamos na rádio Yandê desde 2013 com esse projeto pioneiro, que de uma rádio, acabou se tornando várias outras coisas. Hoje, não somos apenas a primeira rádio web indígena do Brasil, mas a gente também desenvolve diferentes projetos como o Festival de Música Indígena Contemporânea", diz.
Renata explica também que o objetivo do festival é mostrar que a cultura indígena não está apenas no passado, mas que é viva e conversa com as demais linguagens do futuro, inclusive por meio da música.
O Yby será o primeiro festival a misturar a ancestralidade das culturas indígenas com o contemporâneo. Os artistas terão a oportunidade de trazer suas diferentes formas de expressão, falar de seus sentimentos e contar suas histórias por meio da música. Renata fala sobre quais gêneros musicais serão tocados no Yby e a importância da diversidade de vozes no evento.
"Uma das características mais fortes desses artistas é juntar gêneros contemporâneos com toda essa tradicionalidade de suas culturas.Teremos rappers em Guarani, forró na língua Kayapó, MPB em Pankararu, rock e pop rock em Fulni-ô. Existe muita diversidade sendo cantada em línguas indígenas, ao mesmo tempo que dialoga com todos os formatos contemporâneos", conta.
Na abertura do evento haverá uma mesa de discussão chamada “Políticas Públicas e Iniciativas pela Arte Indígena”, que convida representantes dos governos municipal, estadual e instituições parceiras a apresentar planos para a consolidação da inclusão artística dos povos indígenas na cidade de São Paulo.
No festival, também será realizada a cerimônia do primeiro Prêmio Galdino de Música Indígena, que celebrará os grandes nomes e as revelações da música indígena contemporânea. Além disso, ao longo dos três dias, apresentações tradicionais dividirão a programação com funk, heavy metal, MPB, rap dentre outros.
Um dos artistas é Gean Ramos. Filho do povo Pankararu de Jatobá, de Pernambuco, o cantor, compositor e violonista explica que a música contemporânea indígena é a que surge a partir das relações e das intervenções de outras culturas, da religião e da política. Além disso, Gean fala da importância desse primeiro festival para a cultura brasileira.
"A gente tem sempre o costume de falar, ou pelo menos conhecer sobre povos indígenas, falando sempre no passado. Falando sempre que o povo indígena 'era', 'morava', 'fazia' e eu acho que o Yby vem em um momento em que ele vai exatamente falar sobre o hoje, ele junta em um único lugar o que está sendo feito hoje, que é essa nossa música com toda essa influência e que tem como foco principal a manutenção cultural dos povos indígenas", explica.
Além de Gean, a programação do Yby, recebe artistas como Brisa Flow, Bro's MCs, Djuena Tikuna, Ian Wapichana, a ativista indígena e rapper Katú Mirim, entre outros.
O ano de 2019 foi reconhecido pela UNESCO, como o Ano Internacional das Línguas Indígenas, com isso, o festival valoriza também a diversidade linguística de seus povos com apresentações de artistas em diferentes idiomas indígenas. Gean explica a importância da tradicionalidade presente no evento.
“Vale ressaltar que as comunidades indígenas não estão deixando de praticar suas culturas e tradições. Nós temos nossa música tradicional, essa que é praticada e que não sai dos nossos lugares de tradição, dos nossos terreiros, de práticas tradicionais e esse tipo de música é muito importante para o fortalecimento dos povos”, finaliza.
O festival que terá entrada gratuita, contou com doações financeiras, através de crowdfunding para acontecer. Além de muita música, o evento conta ainda com debates políticos, desfile de moda e exposição de artesanato e peças de artes visuais.
Edição: Michele Carvalho