Preso Político

Intelectuais pedem apoio a líder da Igreja Anglicana para libertação de Assange

Em carta, 62 ativistas pedem para Arcebispo da Cantuária usar “influência moral” em favor do fundador do WikiLeaks

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Fundador do WikiLeaks está preso no Reino Unido desde abril e teve negado pedido de adiamento de processo de extradição para os EUA
Fundador do WikiLeaks está preso no Reino Unido desde abril e teve negado pedido de adiamento de processo de extradição para os EUA - Foto: Justin Tallis/AFP

Uma carta assinada por 62 intelectuais de 15 países foi entregue ao Palácio de Lambeth, residência oficial do chefe da Igreja Anglicana, Justin Welby, pedindo que o líder religioso use sua influência moral para pôr fim à prisão “injusta e cruel” de Julian Assange. 

“Julian Assange não é acusado de nenhum crime nem contravenção no Reino Unido e já cumpriu toda a sentença por seu único delito: violar as condições estabelecidas em sua fiança para evitar a extradição para os Estados Unidos via Suécia”, escrevem os intelectuais.

“Ele não foi e não é acusado de nenhum crime na Suécia. As únicas acusações contra ele têm origem nos Estados Unidos, com fundamentação puramente política, com o objetivo de punir Julian Assange por publicar informações precisas fornecidas por fontes bem-embasadas”, destaca a carta.

Assange está cumprindo uma pena de 50 semanas de prisão no presídio de Belmarsh, perto de Londres, e aguarda o julgamento do pedido de extradição para os Estados Unidos. Se for extraditado, o fundador do WikiLeaks responderá a 18 acusações, sendo 17 com base na lei de espionagem do país.

Sobre a divulgação de informações confidenciais do governo dos EUA pelo WikiLeaks, a carta destaca ainda que se trata de “uma prática comum em toda a grande mídia, que agora lamentavelmente se abstém de defender Assange, mesmo tendo publicado as mesmas informações que ele”.

Os intelectuais e ativistas que assinam a carta afirmam também que “está claro que, no tratamento dado no momento a Julian Assange, o Reino Unido está se rebaixando a mero instrumento de repressão política exercida pelos Estados Unidos”.

Justin Welby é o Arcebispo da Cantuária, chefe da Igreja Anglicana, igreja nacional e de denominação cristã estabelecida oficialmente na Inglaterra.

Entre os intelectuais que assinam a carta estão a norte-irlandesa vencedora do prêmio Nobel da paz Mairead Maguire, o linguista e filósofo Noam Chomsky, o ex-analista militar dos EUA Daniel Ellsberg, o cineasta Oliver Stone, o defensor dos direitos humanos Francis Boyle, o ex-presidente do Comitê de Direitos Humanos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa Dick Marty, o compositor grego Mikis Theodorakis, a parlamentar alemã Sahra Wagenknecht e o ex-editor do Le Monde Diplomatique Alain Gresh.

Leia a carta na íntegra:

Ao Reverendíssimo Senhor Justin Welby,

Arcebispo da Cantuária

Nós que abaixo assinamos pedimos respeitosamente às autoridades morais do Reino Unido que usem sua influência para obter a libertação imediata de Julian Assange, cidadão da Austrália, do presídio de Belmarsh, onde ele está sendo mantido de forma injusta e cruel.

Julian Assange não é acusado de nenhum crime nem contravenção no Reino Unido e já cumpriu toda a sentença por seu único delito: violar as condições estabelecidas em sua fiança para evitar a extradição para os Estados Unidos via Suécia. Ele não foi e não é acusado de nenhum crime na Suécia. As únicas acusações contra ele têm origem nos Estados Unidos, com fundamentação puramente política, com o objetivo de punir Julian Assange por publicar informações precisas fornecidas por fontes bem-embasadas. Essa é uma prática comum em toda a grande mídia, que agora lamentavelmente se abstém de defender Assange, mesmo tendo publicado as mesmas informações que ele.

Está claro que, no tratamento dado no momento a Julian Assange, o Reino Unido está se rebaixando a mero instrumento de repressão política exercida pelos Estados Unidos.

Vossa Graça,

A atual prisão de Julian Assange é uma mácula no sistema judiciário da nação, uma vergonha para a decência britânica. Hoje, este escândalo pode estar em grande parte oculto, mas com certeza emergirá na História, a menos que sejam tomadas medidas imediatas pelos mais altos representantes do povo britânico para corrigir essa grande injustiça.

Pedimos a Vossa Graça que respeitosamente transmita esta mensagem para Sua Majestade, a Rainha Elizabeth II.

Fazemos um apelo ao seu senso de justiça e de honra nacional para defender as melhores tradições da democracia britânica e do respeito pelos direitos humanos, pedindo a libertação imediata de Julian Assange.

Com grande apreensão,

Tariq Ali, escritor, editor, cineasta, Reino Unido.

Mary Beaudoin, Women Against Military Madness (Mulheres Contra a Insanidade Militar), EUA.

Francis Boyle, professor de direito, membro da diretoria da Anistia Internacional dos EUA entre 1988 e 1992.

Paolo Borgognone, acadêmico, escritor, Itália.

Jean Bricmont, físico matemático, escritor, Bélgica.

Peter Brock, repórter, crítico de mídia, jornalista, finalista do Prêmio Pulitzer, EUA.

Scott Burchill, professor sênior de relações internacionais, Deakin University, Austrália.

Al Burke, editor, Nordic News Network, Suécia.

Franco Cavalli, ex-presidente da União Internacional de Combate ao Câncer, Suíça.

Noam Chomsky, linguista, escritor, ativista, EUA.

Michel Chossudovsky, economista, diretor da Global Research, Canadá.

Neil Clark, jornalista, apresentador e escritor, Reino Unido.

Andrew Cockburn, escritor, editor da Harper’s Magazine, EUA.

Michel Collon, editor, diretor da Investig’Action, Bruxelas.

Francis Combes, poeta, editor, França.

Sevim Dagdelen, jornalista, parlamentar, Alemanha.

Manlio Dinucci, jornalista, escritor, Itália.

Bruno Drweski, historiador, França.

Björn Eklund, editor, Suécia.

Daniel Ellsberg, ex-analista militar, divulgou os Papéis do Pentágono, escritor, EUA.

Norman G. Finkelstein, cientista político, escritor, EUA.

Julie Franck, Laboratório de Psicolinguística, Universidade de Genebra, Suíça.

Julio Cesar Gambina, economista, presidente da Fundación de Investigaciones Sociales y Políticas, Argentina.

Manolis Glezos, um dos principais nomes da resistência na Segunda Guerra Mundial, ex-membro do Parlamento Europeu, 97 anos, Grécia.

Alain Gresh, jornalista, escritor, ex-editor da Le Monde Diplomatique, França.

Katharine Harwood Gün, ex-funcionária de agência de inteligência britânica, denunciante de casos de improbidade (whistleblower), Reino Unido.

Chris Hedges, jornalista, escritor, EUA.

Diana Johnstone, jornalista, escritora, França.

John C. Kiriakou, ex-funcionário da CIA, denunciante de casos de improbidade (whistleblower), EUA.

Dimitrios Konstantakopoulos, jornalista, escritor, especialista em relações Ocidente-Oriente e controle de armas, diretor da DefendDemocracy.press, Grécia.

Tamara Kunanayakam, ex-embaixadora do Sri Lanka em Cuba, no Escritório das Nações Unidas em Genebra e na Santa Sé.

Annie Lacroix-Riz, historiadora, França.

John Laughland, historiador, escritor, Reino Unido.

Joe Lauria, correspondente internacional veterano, editor-chefe da Consortium News, EUA.

Annie Machon, ex-agente de inteligência do serviço britânico de informações MI5, denunciante de casos de improbidade (whistleblower).

Mairead Maguire, vencedora do prêmio Nobel da paz, Irlanda do Norte.

Cynthia McKinney, ex-congressista, ativista, escritora, EUA.

Dick Marty, jurista, ex-senador e ex-presidente do Comitê de Direitos Humanos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Suíça.

Albrecht Müller, economista, escritor, diretor do site NachDenkSeiten, Alemanha.

Moritz Müller, jornalista, Alemanha.

Jan Oberg, pesquisador, diretor e fundador da The Transnational Foundation (Fundação Transnacional -- TFF), Suécia.

Jean-Pierre Page, ex-chefe do departamento internacional da Confederação Geral do Trabalho (CGT), França.

Dragan Pavlovic, professor de anestesiologia e medicina intensiva, Sérvia.

John Pilger, jornalista, escritor, cineasta, Austrália.

William R. Polk, professor emérito de história da Universidade de Chicago, ex-presidente do Instituto Adlai Stevenson de Relações Internacionais, EUA.

Jesselyn Radack, advogada na área de direitos humanos, EUA.

Raúl Roa Kourí, dramaturgo, ex-embaixador cubano nas Nações Unidas e no Vaticano, Cuba.

Paul Craig Roberts, ex-secretário-assistente para Política Econômica do Departamento do Tesouro, EUA.

Coleen Rowley, agente aposentada do FBI/assessoria jurídica da divisão; denunciante de casos de improbidade ligados ao 11 de setembro, EUA.

Rick Rozoff, editor, Stop NATO (grupo de protesto contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte -- Otan), EUA.

Robert Scheer, jornalista, comentarista, EUA.

Eugene Schulman, corretor, bibliófilo, Suíça.

Norman Solomon, diretor, Roots Action, EUA.

George Szamuely, jornalista, EUA.

Matthew Stevenson, autor de histórias de viagens, Suíça.

Oliver Stone, cineasta, EUA.

Mikis Theodorakis, compositor, Grécia.

Jeannie Toschi Marazzani Visconti, jornalista, escritora, Itália.

Antonio Tujan, fundador da Fundação IBON, Filipinas; presidente internacional da Rede Reality of Aid.

Sahra Wagenknecht, economista, parlamentar, Alemanha.

John Walsh, fisiologista, ensaísta, EUA.

Daniel Warner, acadêmico independente, Suíça.

*Com informações da Defend Democracy Press

Edição: Aline Scátola