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Truculência da PM não é novidade em Paraisópolis, mas vem aumentando desde novembro

Baile funk que foi alvo de ação policial em SP impulsiona crescimento do comércio local e divide opiniões na comunidade

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Nove jovens morreram durante ação da polícia; o baile, que ocorria há 9 anos, divide opiniões entre moradores
Nove jovens morreram durante ação da polícia; o baile, que ocorria há 9 anos, divide opiniões entre moradores - Pedro Stropasolas

A morte de nove jovens, acuados em duas vielas de Paraisópolis durante ação da Polícia Militar de São Paulo no último fim de semana, causou repercussões em todo o país. Mas, segundo afirmações da comunidade local, a truculência policial não é novidade. 

Moradores relatam que, desde o início do mês de novembro, as abordagens se tornaram mais constantes e o grau de agressividade por parte dos agentes também aumentou. O Baile Funk da DZ7, cenário da ação na madrugada de sábado (30) para domingo (1º), vinha se tornando um dos principais alvos. 

A festa acontece há mais de dez anos e toma as vias comerciais mais movimentadas do bairro. O público varia entre 5 e 10 mil pessoas e está longe de ser formado apenas por quem vive em Paraisópolis. Também vem gente de outros bairros, estados e até jovens de elite da capital paulista. 

O evento divide as opiniões na comunidade. Ao mesmo tempo em que gera reclamações pelo barulho e pela interrupção da mobilidade, também é apontado como um dos fatores determinantes para o crescimento do comércio na região. 

Estado ausente

A reportagem do Brasil de Fato esteve em Paraisópolis, acompanhada de um dos artistas do bairro que frequenta o baile.

O MC não quis se identificar, mas afirmou que o ciclo econômico da festa vai da reciclagem de lixo ao comércio. Ele ressalta que a presença do Estado na região é pequena, normalmente representada apenas pela repressão policial.

“Imagina, você está na sua comunidade e não pode passar para trabalhar porque a polícia não deixa. A polícia está aqui para servir você. Porque nós moramos dentro da favela, nós não pagamos impostos? Nós pagamos impostos também. Não é só o burguês que paga imposto que mora em um prédio de alto nível. Nós pagamos impostos também!”

Estado repressor

A percepção da comunidade é de que as ações da polícia ficaram mais agressivas após a morte de um sargento da Polícia Militar no início de novembro, durante uma troca de tiros nas imediações.

A PM nega retaliação e, enquanto as circunstâncias não são esclarecidas, a vida na comunidade sofre as consequências, como relata um comerciante local.

“Antes do que aconteceu no início do mês eu ficava madrugadas e madrugadas de portas abertas. O pessoal da comunidade vem, gosta de ficar aqui, jogar um bilhar, tomar uma cerveja, falar do dia a dia, assistir o jogo de quarta-feira. Depois desse dia eu nunca mais fiquei. Só fico até às 22h, no máximo meia noite.”

 

A viela onde os jovens foram acuados pela PM (Foto: Pedro Stropasolas)

Doria defende PM

Os moradores de Paraisópolis questionam ainda a versão da polícia de que dois bandidos de moto iniciaram um tiroteio que causou a reação dos agentes de segurança.

Segundo os moradores, a quantidade de pessoas na rua, que tem cerca de 12 metros de largura entre as duas calçadas, inviabilizaria essa situação.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou que lamenta as mortes dos 9 jovens, mas ressaltou que não vai modificar as políticas de segurança pública.

"São Paulo tem o melhor sistema de segurança preventiva, isso não significa que não seja infalível. A política de segurança pública do estado de São Paulo não vai mudar"

Nesta terça-feira (3), o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo pretende reunir entidades da sociedade civil, movimentos sociais, militantes e órgãos de Estado para discutir medidas urgentes, acompanhar a apuração do caso e assegurar a proteção de vítimas e familiares. 

Edição: Rodrigo Chagas