“DOPS aponta o maior responsável pelo terrorismo”. No jornal Correio da Manhã, do dia 6 de novembro de 1969, esse era o título da reportagem sobre o guerrilheiro Carlos Marighella. Nela, o jornal descrevia um relatório feito pelo DOPS, meses antes, em que apontava o ex-deputado como “o maior responsável pelo atual estado de coisas em nossa terra”, no que se refere a “subversão”.
De acordo com a reportagem, o DOPS teria identificado a origem da mentalidade “subversiva” de Marighella, a partir de um discurso proferido numa conferência da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade), realizada em Havana no ano de 1967. Sua fala seria a sinalização do rompimento com o comitê central do PCB por considerá-lo “conservador”: “A guerrilha é o que pode haver de mais anticonvencional e de mais antiburocrático”, teria afirmado Marighella na ocasião.
No dia anterior a essa publicação, o mesmo jornal noticiava “Marighella morto a tiros em São Paulo”. Próxima a Avenida Paulista, a emboscada, que fazia parte da “Operação Bandeirante”, teria “durado mais de dois minutos”, iniciada com o disfarce de “duas agentes policiais que ficaram então postadas naquele local, pretensamente namorando com outros policiais disfarçados”.
Após o sinal, um pouco depois das “20 horas”, “quando Marighella apareceu escoltado por dois companheiros”, inciou-se um intenso tiroteio. De dentro do “próprio carro que o conduzia”, o guerrilheiro não conseguiu romper o cerco, apesar dos disparos contra os agentes da Ditadura. “Ao morrer, Marighella trajava terno branco de linho, camisa esporte clara, meias e sapatos pretos”, finalizou a reportagem naquele dia.
*Leonardo Cruz é historiador.
Edição: Isadora Morena