Marconi França, líder dos caminhoneiros autônomos que anunciou uma nova paralisação da categoria para a próxima segunda-feira (16), está recebendo ameaças de morte. Em entrevista ao Brasil de Fato, o condutor mostrou preocupação com sua segurança.
“Esses caminhoneiros ainda insistem em ficar com idolatria política. Estou recebendo ameaça de números estranhos, teve um que disse que estava preparado para passar o caminhão em cima de mim. Não tenho medo dessas ameaças. Se é para morrer, morro brigando, mas ajoelhado não”, afirmou França.
O caminhoneiro não consegue identificar de onde as ameaças partiram, mas reconhece que a categoria está rachada e que a convocação para a greve despertou ódio em “antigos aliados”. “Eu mantenho minha coerência, nunca mudei de opinião e de postura”, afirma o condutor, que em 2018 participou da greve que paralisou o Brasil, durante o governo do ex-presidente Michel Temer.
Oposição bolsonarista
Do outro lado, estão lideranças dos condutores autônomos, que criticam a paralisação. Protagonistas da paralisação de 2018 e adversários políticos, Wallace Landim, o Chorão, e Wanderely Dedeco discordam da greve.
Para Chorão, a greve é inviável. “Não tem nada disso”, disse o condutor. Dedeco vai além. “Não é possível e nem necessário. Falo para todos que me seguem que se o cara não está contente, procure carregar em outro lugar, negociar o frete da melhor maneira possível. Tem aqueles que acham que é hora, mas a paralisação não é fácil de fazer e como algumas lideranças estão fazendo não funciona.”
Em entrevista ao Brasil de Fato, em maio deste ano, Dedeco defendia uma greve e acusou Chorão de ser manipulado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para “passar uma imagem de que está tudo bem, um mar de rosas” e desmobilizar uma possível paralisação.
Em resposta, Chorão afirmou que o contato com Onyx significava “um canal de diálogo com o governo”. “Percebemos que o governo está trabalhando”, afirmava o condutor à época.
Em suas redes sociais, Dedeco exibe uma foto com celebrando a Aliança Pelo Brasil, novo partido de Jair Bolsonaro.
O caminhoneiro recebeu do governo federal, no dia 15 de agosto, a Cruz de Mauá, das mãos do ministro dos Transportes Tarcísio de Freitas. A condecoração é conferida pelo ministério às personalidades que contribuíram para a expansão, o aperfeiçoamento e a eficiência dos transportes no Brasil.
Apoio
O sindicalismo é outro vértice da disputa. Alijados da greve anterior, protagonizada pelos condutores autônomos, os sindicalistas se mobilizam para apoiar a eventual paralisação da categoria.
“Estamos fechados com os caminhoneiros e sabemos que os bolsonaristas estão tentando desmobilizar a greve porque estão alinhados com o governo e não com a categoria. O povo brasileiro está cobrando uma greve, uma postura, contra os aumentos de diversos alimentos, que são decorrentes da alta no preço do diesel”, afirma Sandro Cezar, presidente da CUT-RJ, local de onde França anunciou a paralisação.
De acordo com Marconi França, 70% dos cerca de 4,5 milhões de caminhoneiros autônomos e celetistas devem aderir à greve. “Uma paralisação nunca começa com adesão total, é sempre gradativa. Hoje, nós já temos oito estados fechados e esse número vai crescer até segunda-feira e com certeza, depois da paralisação, será ainda maior”, explica.
O motivo principal para a paralisação é o 11º aumento seguido no preço do Diesel no governo de Jair Bolsonaro. “Hoje, nós estamos vivendo uma escravidão, não tem condições de trabalhar”, explica França.
Edição: Rodrigo Chagas