Após pressão, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) prometeu que 32 policiais militares envolvidos no massacre em Paraisópolis serão afastados do serviço na rua. A promessa foi anunciada em reunião na segunda-feira (9), entre o chefe do Executivo e familiares das nove vítimas mortas em decorrência da ação da PM no baile funk da comunidade da zona sul da cidade, no domingo (1º).
Na reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, as famílias cobraram o afastamento dos policiais – até então apenas seis PMs haviam sido retirados das ruas para atuar em serviços administrativos – e reiteraram o pedido de justiça. No entanto, nenhuma novidade sobre as investigações foi apresentada por Doria, de acordo com informações da Ponte Jornalismo.
O tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Adilson Paes de Souza viu como “acertada” a atitude do governador em afastar todos os PMs que participaram da ação que terminou em massacre. Segundo ele, vai “transmitir uma esperança de apuração”, como destacou em entrevista à Rádio Brasil Atual.
A mãe do jovem Denys Henrique, de 16 anos, morto pisoteado, explicou à Ponte que o afastamento dos 38 policiais era o mais justo, até que os fatos fossem apurados, uma vez que todos esses agentes estavam envolvidos. “Quem garante que só os seis afastados são os culpados?”, questionou Maria Cristina Quirino.
Perguntas sem respostas
Os policiais que atuaram no baile da DZ7, na madrugada daquele domingo, contam que perseguiam uma moto com dois suspeitos que teriam entrado no baile e atirado nos agentes públicos.
Em reação, os PMs jogaram bombas, o que teria provocado dispersão e correria e, por consequência, o pisoteamento de pessoas que participavam do baile. Uma versão que tem sido cada vez mais difícil de sustentar, como destaca Souza, diante dos relatos e imagens que mostram abusos por parte dos policiais.
Para o tenente-coronel é fundamental saber quem era o comandante da ação, quais protocolos foram seguidos, por que os jovens parecem ser encurralados em vielas quando o objetivo da ação era dispersar o baile. Essas e outras dúvidas que a polícia não conseguiu explicar, estão sendo denunciadas pelos frequentadores do baile e moradores de Paraisópolis, colocando em xeque a versão oficial.
“Por que os policiais do batalhão não dão entrevista, (por que) só os porta-vozes da polícia? Nós precisamos de transparência”, afirma Souza. “A imagem da polícia militar está mais uma vez prejudicada por um fato mal explicado, e a polícia não merece isso, a sociedade não merece isso, o Estado não merece isso e a democracia não merece isso”, destacou Souza aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva.
Retrocesso e barbárie
O tenente-coronel também lembra da jovem que foi agredida com uma garrafa e levou dezenas de pontos no rosto, além de ser chamada de “vagabunda” pelos policiais. A própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), repudiou a ação do Estado em Paraisópolis e cobrou do governo a reparação das famílias das nove vítimas e dos feridos.
Na reunião da segunda-feira, nem Doria ou o secretário da Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, deram detalhes quanto aos abusos e falhas cometidos pelos agentes do Estado. De acordo com a reportagem da Ponte, o governo também prometeu a criação de seis grupos de trabalho para identificar pontos a serem melhorados, além de promover um debate para aprimorar áreas como educação e desenvolvimento social em Paraisópolis com ações da prefeitura e do estado.
“Toda vez que um órgão estatal tem a sua legitimidade e imagem colocada em dúvida, quem perde é o Estado e todos nós. É com isso que eu me preocupo”, disse Souza.
“Nós temos a banalização da violência, nós não temos mais pessoas mortas por tiros, nós temos pessoas pisoteadas, espancadas, inclusive com pedação de pau. Isso para mim representa um retrocesso de séculos em direção à barbárie. Isso precisa parar”, implora o tenente-coronel.
Edição: Rede Brasil Atual