Projeto já recebeu prêmios e está na fase de estudo para comercialização
Bananas verdes que viram embalagens e canudos biodegradáveis. Parece mágica, mas é trabalho feito com muita dedicação pelos estudantes do Centro de Educação Profissional da Floresta do Cacau e do Chocolate Milton Santos. A escola estadual fica dentro do Assentamento Terra Vista, no município de Arataca, sul da Bahia, a 273 quilômetros da capital Salvador.
Tudo começou em 2018 quando o professor de biologia Robson Almeida propôs o desafio da pesquisa aos jovens na sala de aula do assentamento baiano.
De lá para cá, o estudo pioneiro em produzir películas biodegradáveis a partir da biomassa da fruta já foi reconhecido por dois anos consecutivos pelo Prêmio Respostas para o Amanhã, concedido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC).
O professor orientador Robson Almeida explica o passo a passo para transformar a banana verde em embalagens agroecológicas.
“Seguimos as seguintes etapas: utiliza-se a banana verde por conta do alto teor de amido. Essa banana é cozida, em seguida triturada, até formar uma biomassa. A biomassa é espalhada numa superfície lisa e plana e posta para desidratar ao sol. Esse processo de desidratação dura aproximadamente quatro horas. Após a película desidratada, remove ela, coloca novamente em um recipiente com água para reidratar.
Após a reidratação a película fica com a característica coreácea e maleável, então escolhe-se um molde com o formato que você deseja ter e coloca essa película em cima do molde e põe para secar novamente. No processo de secagem essa água evapora e se transforma numa película rica e resistente, então é só remover o molde que está pronta a embalagem”.
Depois de prontas, as embalagens feitas a partir da banana verde têm a capacidade de se desintegrar totalmente na natureza em torno de vinte a trinta dias. Além de evitar o desperdício da fruta e servir de adubo orgânico novamente para o solo, as embalagens sustentáveis criadas pelos estudantes são uma alternativa para reduzir o uso e o descarte do plástico convencional. Embalagens plásticas levam, em média, cem anos para se desfazer no meio ambiente.
O estudante Aldeni Santos, de 20 anos, é um dos participantes do projeto desenvolvido no curso de agroindústria da escola. Para ele, experiências científicas como estas despertam na sua turma o interesse em cuidar do meio ambiente e de encontrar na própria terra onde vive uma alternativa viável e mais justa para as próximas gerações.
“Ele além de ser um curso em que ensina a gente a produzir novas coisas, ele ensina ao mesmo tempo a se preocupar com a natureza, o que você vai extrair da natureza, como você vai extrair da melhor forma. Então, quanto mais investimentos nessa área melhor, é muito importante porque essas pessoas elas se preocupam com o mundo, elas não se preocupam só com elas, com a região, com o bairro, com a cidade. É preciso que cada pessoa pense com o mundo e no fim todo mundo acaba ganhando com esses projetos”.
Para quem quer colocar em prática conceitos agroecológicos em projetos de sala de aula, o professor Robson Almeida dá um conselho fundamental: levar em conta a realidade e o ambiente que os alunos vivem faz toda a diferença. “A maioria desses estudantes são filhos de pequeno produtor ou de trabalhador rural. Então fica mais fácil a gente trabalhar com algo que está atrelado com a realidade destes meninos."
Aplicado durante todo o ano letivo, o projeto segue em fase experimental. Nas próximas etapas, estão previstos novos testes para que, em breve, as embalagens sejam comercializadas.
Edição: Camila Salmazio