Cerca de 20 estudantes que ocupavam a Escola Lênio de Morais, em Barueri, na região metropolitana de São Paulo (SP), desde as 20h de segunda-feira (16) deixaram o local na madrugada de terça (17). Eles protestavam contra o possível fechamento da unidade em 2020 pelo governo Doria (PSDB). Ao saberem da ocupação, professores e parentes foram até a porta da instituição. Os estudantes deixaram o local após promessa de que a escola continuará funcionando no ano que vem.
Os manifestantes disseram que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo emitiu um documento no qual se comprometeu a atender as pautas solicitadas. A secretaria, no entanto, afirmou à reportagem que nenhum documento foi emitido. De acordo com a pasta, o acordo foi feito em uma conversa entre os estudantes e a dirigente regional de ensino, professora Keise Cristina Portela dos Santos.
Secundaristas autônomos convocaram um ato na escola Antônio Inácio Emanuel, em Taboão da Serra (SP), na manhã desta terça (17), também contra o fechamento de unidades pelo governo Doria.
* Notícia atualizada no dia 17 de dezembro de 2019 às 09:00.
Violência
A Polícia Militar foi chamada pela Guarda Civil e cercou o prédio no fim da noite. Os estudantes relatam que os policiais ameaçaram arrombar a porta e invadir a escola a força.
"A gente não sabe como eles vão reagir. Mas a gente tem medo que eles entrem e façam o que der na telha deles", disse ao Brasil de Fato, por telefone, um dos estudantes durante a ocupação.
Um vídeo mostra a abordagem truculenta de um policial à professora Ângela Soares no momento em que ela estava na porta da escola e dizia estar tentando orientar os alunos.
"Quando eu soube da ocupação, eu vim pra cá porque sou professora também e a gente sempre quer ajudar. Quando eles chegaram, começaram a ameaçar os alunos, dizendo que iam entrar, abrir o portão, que ia 'ficar feio' pra eles. Quando eu percebi que um dos policiais estava tentando abrir o portão, fiquei com medo de a polícia entrar e descer o cacete neles. Aí eu intervi e falei pro policial ‘você não pode fazer isso, eles são menores, você só pode conversar com eles na presença dos pais’", explicou.
Segundo a professora, com a chegada de uma equipe da TV Globo ao local, o clima mudou e os policiais deixaram de fazer ameaças diretas aos estudantes.
A ocupação
A escola Lenio Vieira de Moraes tem atualmente uma gestão compartilhada entre a prefeitura de Barueri e o governo de São Paulo. Os estudantes protestam contra a intenção do governo Doria de encerrar as atividades da parte estadual da escola -- de ensino médio -- e de ceder o prédio para ampliação da unidade gerida pelo município -- de ensino fundamental.
De acordo com uma representante do grêmio estudantil do colégio, uma assembleia decidiu pela ocupação como "última saída" após tentativas de diálogo. Ela explicou ao Brasil de Fato que, mesmo sem qualquer comunicado oficial sobre o fechamento, os secundaristas já tiveram as matrículas realocadas para unidades de ensino em locais distantes.
A estimativa do grêmio é de que mais de 300 estudantes sejam impactados com o encerramento das atividades da unidade estadual -- são seis turmas de ensino regular e outras seis na modalidade de Educação para Jovens e Adultos (EJA).
Um dos representantes dos estudantes também lembra que a escola já foi ocupada, em 2015, quando os alunos resistiram ao fechamento da instituição.
O Brasil de Fato tentou contato por telefone com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que informou estar apurando a situação.
*Com informações de Nara Lacerda e Igor Carvalho.
Edição: Rodrigo Chagas