O Comitê Nacional Palestino, do Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel), enviou uma carta ao Congresso Nacional brasileiro, nessa segunda-feira (16), para que os parlamentares não aprovem os acordos de cooperação militar, científica e tecnológica com Israel.
Se ratificados pelo Congresso, os textos podem “aprofundar as relações militares e os laços de cumplicidade, facilitando os benefícios econômicos para Israel e suas empresas privadas cúmplices, ajudando na manutenção da situação ilegal e na prática de violações sistemáticas da IV Convenção de Genebra”, que prevê a proteção aos civis, inclusive em território ocupado.
Em Israel, é comum que empresas de tecnologia tenham algum tipo de ligação com o setor militar. Assim, os palestinos alertam que as exportações dessas empresas são essenciais para a manutenção da indústria militar israelense. Cerca de 70% das armas produzidas no território de Israel são destinadas à exportação, segundo o próprio site do governo. “Sem cooperação internacional, Israel não seria capaz de manter suas políticas de ocupação e apartheid que oprimem o povo palestino.”
Segundo o Palestinian Centre for Human Rights (PCHR), durante os ataques israelenses à Faixa de Gaza, em 2014, quando 2.300 pessoas foram assassinadas, empresas militares de Israel testaram novos armamentos. “Até os brutais ataques militares israelenses contra os dois milhões de palestinos e palestinas sitiados em Gaza tornaram-se uma vitrine e um laboratório para o desenvolvimento e teste de novos armamentos e tecnologias.”
“Uma vez exportados, esses métodos, tecnologias e armas são usados com demasiada frequência para apoiar violações dos direitos humanos em todo o mundo. Na América Latina, essa cooperação tem historicamente apoiado esquadrões da morte e juntas militares brutais”, alega o comitê palestinos.
Brasileiros também se posicionam
No mesmo dia, em consonância com o movimento palestino, cerca de 50 organizações brasileiras também enviaram uma carta ao Congresso para denunciar a cooperação. Entre os signatários estão Rede Global Judaica por Justiça, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras.
De acordo com o texto, “laços de cumplicidade como esses que permitem que Israel continue seu regime de ocupação, colonização e apartheid contra o povo palestino” e “incentivam o intercâmbio de armas, dados e tecnologias de monitoramento, repressão e militarização com um regime que dispõe de recursos nessas áreas justamente por utilizar o povo palestino como laboratório”.
Os acordos
Os compromissos foram assinados entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o então chefe de Estado israelense Benjamin Netanyahu, quando o presidente brasileiro viajou até o país em março deste ano.
Na ocasião, foram assinados acordos em diversas áreas: defesa, serviços aéreos, prevenção e combate ao crime organizado, ciência e tecnologia, além de um documento de entendimento mútuo em segurança cibernética. Bolsonaro e Netanyahu também concordaram em cooperar em alguns setores, como petróleo e gás, termoeletricidade e energias renováveis.
Na época, o Ministério das Relações Exteriores informou, por meio de nota, que os dois países devem intercambiar “melhores práticas sobre a concepção dos mercados domésticos de gás natural”.
Edição: Julia Chequer