A especulação imobiliária é um fantasma que, frequentemente, tem aparecido na história recente da vida urbana de Natal, no Rio Grande do Norte. Entre 1975 e 1976, o Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, tornou-se o centro de uma disputa que envolveu interesses particulares e públicos. Na época, o jornal Diário de Natal realizou uma série de reportagens em tom de denúncia, como a que foi publicada em 12 de setembro de 1975, em que abordou a ameaça de “desfiguração da paisagem de Ponta Negra”, com a presença de lotes cercados indevidamente, enquanto alguns posseiros já elaboravam “projetos de futuras construções”, inclusive, “no cume do morro”.
Ainda de acordo com o jornal, os terrenos haviam sido adquiridos por um “grupo de ricos comerciantes de Natal”, entre eles a família Gosson, que pelo valor de Cr$ 60,00, havia comprado um terreno de “30 metros quadrados” a um pescador, terreno que ao ser cercado passou para “1000 metros quadrados”, relatou uma moradora do local. Outros pescadores entraram em conflito com o grupo apropriador, gerando “discussões e tiros”: “É de lá que tiramos os gravetos da lenha para o fogão queimar o peixe. Com as cercas ninguém vai poder viver”, declarava um deles para a reportagem.
Um nome frequente na série de reportagens do Diário era o do Sr. Daniel Gosson, prestes a adquirir junto ao município “100 hectares de terras, nas localidades denominadas Alagamar e Morro do Careca”. A ação contava com a articulação do “vereador Bernardo Gama”. No entanto, em 27 de outubro de 1976, o Diário de Natal trazia a manchete “Tarcísio veta aforamentos na área do Morro do Careca”, em que o governador Tarcísio Maia afirmava não mais “permitir que alguém ganhe mais dinheiro com terrenos na orla marítima”. Após o veto, descobriu-se que as terras do Morro do Careca, estavam aforadas desde 1920 para a Sra. Amélia Machado, mais conhecida como a Viúva Machado. O desfecho veio no início de dezembro daquele ano: “Dunas pertencem ao Estado”, dizia a reportagem, “A gleba pertence ao Estado, porque nenhum imposto foi pago pela família, desde que conseguiu a carta de aforamento, no início do século”.
*Leonardo Cruz é historiador.
Edição: Isadora Morena